O HOMEM DA BENGALA BRANCA
Quando caminhava pela Praça da Independência, após deixar minhas filhas no colégio, percebi um homem que vinha lentamente em minha direção com o corpo ereto e um olhar distante. Tateava com sua bengala o chão de um lado para o outro, como se estivesse esquadrinhando a calçada a cada passo, cuidadosamente, dado.
Em princípio, não dei importância àqueles detalhes, supondo que o transeunte sabia para onde estava indo. Quando completei a volta no calçadão da praça, cruzei novamente com o homem da bengala branca. Não contive a curiosidade e, desculpando-me, perguntei-lhe se estava perdido. Ele respondeu que não. Apenas havia saltado na parada do ônibus errada, pois de costume, descia no ponto perto da funerária São João Batista, próximo ao local de seu trabalho.
Num gesto de solidariedade, resolvi ajudá-lo no percurso até o seu destino. Segurei-lhe o braço esquerdo, pois o direito carregava o seu instrumento de orientação. Fomos os dois lado a lado e bem devagar.
Durante o trajeto, conversamos sobre a violência e o trânsito caótico que tomaram conta da outrora pacata (e provinciana) cidade de João Pessoa. Ele conversava com ar desenvolto e com um sorriso amável e tranquilo, demonstrando ser uma pessoa culta pela forma como expunha seus argumentos em relação aos assuntos que discutíamos.
Quando chegamos próximo ao local de seu trabalho, o dono de um quiosque fez-lhe um cumprimento com gesto de quem o conhecia há muito, chamando-o de doutor. O doutor retribuiu o cumprimento educada e faceiramente, ostentando um largo sorriso de felicidade.
Finalmente deixei-o na escadaria do Hospital Municipal Santa Isabel. O homem da bengala branca apertou-me a mão num gesto de agradecimento e só então me disse que trabalhava como psicólogo no hospital.
Por Washington Luiz do Nascimento