Revisitando os mitos gregos I ou Caixa de Pandora à brasileira
Prometeu (Mas Não Cumpriu), irmão de Macunaíma, roubou o fogo da divindade monoteísta e toda poderosa para dar aos homens do Brasil para que pudessem ter mais mobilidade para cozinharem restos debaixo de viadutos; queimar índios; incendiar carros de polícia e imprensa em manifestações...
Como castigo divino foi sentenciado a viver acorrentado, ter os órgãos internos devorados por uma ave de rapina de dia para serem regenerados de noite – vamos combinar, não há muita criatividade em castigos dos céus – e, o pior de todos os tormentos: só falar a verdade.
Não satisfeito, havia de se castigar os homens. Assim, o deus da forja dos materiais recicláveis produziu um ser provido de sensualidade, vontade de se doar, além da vocação para reclamar de tudo e querer o mesmo tudo ao mesmo tempo, especialmente coisas impossíveis, inatingíveis e, em geral, extremamente dispendiosas, para suprir desejos frívolos de consumo. Assim nasceu Bertoleza, com seu “vestidinho preto indefectível” e indo até o chão para fazer um quadradinho de oito. Como se não bastasse, a primeira e sensual mulher recebera ainda uma misteriosa caixa que deveria guardar uma lição exemplar para a humanidade.
Ao chegar ao barraco verde desbotado do Morro da Mangueira, sem água, sistema de esgoto e número, Bertoleza deveria encontrar com Macunaíma para desposá-la. Ao receber a inusitada visita entre o êxtase e a desconfiança da esmola demais, Macunaíma a chama para entrar. Ela pousa suavemente a caixa em um tamborete toscamente pintado, aliás, um dos únicos trastes da miserável sala, e se deita na esteira que jazia ao lado do tamborete e que nunca era recolhida após o intenso e inabalável sono do dono do barraco. O vestido meio levantado, as pernas abertas o suficiente para deixar mais que clara sua intenção...
Macunaíma prontamente monta entre as largas e oferecidas pernas abertas da mulata e não precisou de mais que quatro estocadas e um gemido de prazer e vergonha, corroborado pelo “já” de sua amásia, para se consumar sua primeira vez...
O que se seguiu foi incontáveis goles de cachaça, jogos do Flamengo, salários módicos e contas penduradas e, naturalmente, várias trepadas, em geral, com nosso anti-herói mostrando pouco manejo na arte de satisfazer o sexo oposto. Além das constantes lembranças de seu companheiro para deixar aquela atraente caixa bem quietinha, sepultada numa velha arca que abrigava roupas e utensílios de cozinha que se misturavam para atender às necessidades dos dois moradores do casebre.
Em uma das tardes em que Bertoleza se achava solitária no barraco lembrara-se da tal caixa. Abriu a arca, e remexeu suas tralhas até encontrá-la. Ao abrir saíram Galvão Bueno, Maluf, Collor, a lei de compras em caráter de urgência e sem licitações, o voto obrigatório ... Vai dizer que você ainda espera a tal ave verde, a esperança?! Tolinho você essa é uma mitologia brasileira!