Fui atrás de uma psicóloga
Não é que eu não acredite em psicólogos. Mas às vezes acho que aquele estalo capaz de fazer uma pessoa mudar de comportamento pode vir de qualquer parte – até mesmo dos psicólogos. Em todo caso, eu estava considerando a possibilidade de consultar um psicólogo. E só por considerar uma coisa dessas já se vê que eu estava mesmo precisando de um. Acontece que eu sou um cara introvertido, e normalmente são esses os mais indicados para um tratamento psicoterápico (como diria o Quintana, apenas porque eles não podem ser chatos como os outros). E tenho cultivado com tanto cuidado a minha introversão que ela não demorou a se transformar em fobia (no interior eu seria chamado de bicho-do-mato). Foi quando lembrei que ainda existem psicólogos.
Mas tinha o seguinte: como esperar que alguém com medo de pessoas procure justamente um desconhecido para ajudar a resolver o seu problema? Houve quem me aconselhasse uma terapia em grupo. Fiquei imaginando a cena, absolutamente dantesca: uma sessão com meia dúzia de sociofóbicos, calados e constrangidos, diante de uma psicóloga exasperada e quase ao berros: “Falem! Falem alguma coisa! Pelo amor de Deus!”. Não ia dar certo.
Pois então criei coragem e fui atrás eu mesmo de uma psicóloga. Não era uma especialista em fobias, mas a mais barata que encontrei (meu bolso sofre de crometofobia, o medo de dinheiro). Na primeira sessão, pintei o cenário mais trágico possível e concluí com uma expressão que significava “é isso aí, agora te vira para resolver”. No fundo eu esperava que ela me desse uma receita, do tipo “faça isso, isso e aquilo três vezes ao dia antes das refeições por duas semanas”. Claro que ela não fez nada disso, e eu ainda tive que contar toda a minha história de vida, sobretudo a infância, nas sessões seguintes. É uma mulher insaciável, que a cada resposta minha emenda um “fale mais sobre isso”. Resoluções práticas, ainda não tive. Receio que com mais algumas sessões eu vire psicologofóbico.