Antônio Torres, o mais novo imortal da ABL.
 

     Enquanto esperava minha amiga Mazé se arrumar para irmos juntas a mais um encontro da juventude na paróquia, acomodei-me com sua mãe e irmã diante da tv. Passava um programa local tão cheio de comerciais que logo me desliguei e procurei, com o olhar, algo mais interessante.
     Achei um livro, um único livro, naquela casa! Saí de fininho e fui até a varanda com ele. Li o título e a orelha e fui fisgada: não conhecia o autor, mas interessou-me a descrição daquele universo que eu julgava conhecer bem que era o sertão do nordeste brasileiro e seus tão incríveis personagens, que de tão comuns, eram raros e especiais.
     Quando a amiga voltou eu findava, absolutamente encantada, o primeiro capítulo: “Essa terra me chama” e o livro me chamou com tanta força que fiquei com pena de deixá-lo. No dialogo que se seguiu, soube “que o livro não era de ninguém,” que estava ali porque viera numa cesta natalina de uma indústria química do polo de Camaçari-Ba (que maravilha que o RH daquela empresa achava que nem só de queijos, bolos e vinhos se alimenta o Homem!) e que eu podia ficar com o livro, sim!
     O livro em questão era ESSA TERRA, do escritor baiano Antônio Torres e esse meu encontro com sua escrita se deu no início do ano de 1979 e eu, já leitora compulsiva buscando novidades, conclui em alguns dias a leitura de uma das melhores narrativas que já li na vida.
     ESSA TERRA é um desses livros fundamentais e a gente não sabe disso até que o lê e já foi editado dezenas de vezes em praticamente todas as línguas. Nem preciso dizer que me tornei leitora de Torres desde então e tudo que escreveu e escreve até hoje tem a capacidade de me emocionar. E como digo sempre que a emoção é meu critério principal para definir o que considero bom e recomendável para se ler, eu sempre o recomendo.
     Quando anos depois do encontro com a escrita deu-se o encontro pessoal pude confirmar a pessoa gentil e afetuosa por trás do talentoso escritor que foi, por reconhecimento dos seus pares, eleito para ocupar a cadeira de nº 23 da Academia Brasileira de Letras, que já pertenceu a Machado de Assis e tem como patrono o romancista cearense José de Alencar.
      Antônio Torres é e já era imortal para seus leitores, para a Literatura Brasileira e seus pares confirmaram isso. O amigo querido,a pessoa especial, cunhado gentil e atencioso continua com alma de criança,  emocionando as plateias de suas palestras, inspirando gerações a se interessar pela literatura e a incentivar educadores para formar mais leitores por aí a fora.

     Aquele menino que lia cartas e escrevia para uma população de analfabetos e que declamava Castro Alves no dia 07 de setembro na pracinha do velho Junco, hoje Sátiro Dias, fez e faz uma carreira brilhante na Literatura Brasileira, sem se render ao óbvio, sem abrir mão de suas raízes, nem de seus princípios.
 
     E a menina que aos 15 anos leu e se encantou com sua escrita, estará na sua posse hoje, na ABL, feliz pela festa, por todas as homenagens que irá receber, pelo reencontro com tantas pessoas queridas e feliz até com o fardão que ele usará! Antônio Torres, finalmente, imortal para a história da Literatura Brasileira.