A velhinha não queria sair
Chamaram a polícia. Porque alguma coisa precisava ser feita, onde já se viu? O ônibus de turismo já havia chegado ao seu destino e a velhinha continuava lá, sentada como se ainda não tivesse viajado. E não adiantava pedir que se levantasse e fosse embora: ela respondia, irritada, que não tinha nenhum motivo para sair dali. Tem Alzheimer, disse o velhinho marido dela. Mas nunca havia acontecido uma coisa dessas, esclareceu. E por isso ninguém sabia muito bem como agir. Chamaram a polícia.
A polícia ouviu a história e achou a situação bastante inusitada. Mas não devia ser tão difícil assim de resolver. Subiram então no ônibus para falar diretamente com a velhinha. Perguntaram, muito educadamente, o que ela fazia ali. Ela respondeu que estava dentro de um ônibus e que iria viajar. A polícia tentou convencer a velhinha de que ela já havia viajado e depois resolveu apelar para uma mentira, dizendo que, caso ela descesse, poderia entrar em outro ônibus. Mas a velhinha era esperta e perguntou se eles achavam que ela havia nascido ontem. E bateu o pé: continuaria ali dentro o tempo que achasse necessário.
O velhinho marido dela tentou usar de palavras amorosas, lembrar que haviam feito uma viagem tão boa, que ela nunca havia feito isso, mas nada adiantou. Pelo contrário, isso irritou ainda mais a velhinha, que chegou a dizer: “Eu estou por aqui com você”.
A polícia já começava a se impacientar. Aquele havia sido um dia estressante, e agora, perto do final do expediente, tinham que lidar com uma velha que não saia do ônibus. Um jornalista, surgido não se sabe da onde, perguntou a um policial se ele já havia visto um caso como aquele. Ele respondeu que, em 30 anos de corporação, nunca havia visto.
Começou-se então a preparar psicologicamente a velha para ser carregada para fora. Para piorar, ela tinha problema na perna. Quando finalmente a ergueram e levaram embora, contra a sua vontade, ela reclamou que não era assim que se tratava um velho.