No More Dimension Zero
Em minhas andanças pela metrópole, acabei tropeçando no video de um velho herói de infância, “Johnny Cypher in Dimension Zero”, o disco continha seis episódios fora de ordem, fiquei sabendo depois que a série perfazia cento e trinta, mas tudo bem, aquilo era mais que um aperitivo, depois daria um jeito de garimpar os restantes. Com aquela relíquia em mãos, com certeza ao chegar em casa, voltaria a ter quatro anos de idade, quando colocava a boca do fogão no peito e giraria como um louco imaginando um ciclone ser formar a minha volta, lembraria da vizinha loirinha que personificava a heroína e do meu cachorro Moby que fazia as vezes de marciano. Talvez não fizesse isso hoje, mas fui para casa sonhando com meu filho realizando as minhas peripécias de infância ao assistir aquele clássico, coitado só tinha seis anos mas era esperto o bastante para entender o enredo.
Cheguei e já briguei com a patroa, ela odiava que eu gastasse com essas, como dizia, porcarias, mas como faze-la entender que nós homens somos a soma de nossas memórias e que quando buscamos o futuro, na verdade, estamos tentando realizar os sonhos de infância com um pouco mais de malicia ou na pior das hipóteses conseguindo comprar o que não conseguimos ter quando moleques. Depois de alguns minutos de discussão e alguns trabalhos caseiros para justificar minha presença naquele domicilio, fui para a sala e chamei meu garoto, ao entrar ele notou o estojo em minhas mãos e foi logo se atirando pensando que era um presente, deixei-o colocar para rodar, como sempre sentávamos no tapete para assistir qualquer coisa, era uma maneira de estar mais próximo. Confesso que desde a abertura, até o último crédito do sexto episódio fiquei hipnotizado, nada me desligou, nem me retirou do paraíso idílico e suave dos meus primeiros anos. Levei algum tempo até me lembrar de que não estava sozinho e de tirar a mão que insistia em girar algo sobre o peito, perguntei se ele havia gostado. Ele colocou a mão sob o queixo, me encarou e começou a relatar os defeitos de animação, depois desancou com a qualidade da imagem dizendo que não conseguia identificar as cores e por último, sem dó nem piedade soltou uma pergunta refente ao quarto episódio: “Caso o vilão conseguisse triunfar e destruir o universo, o que ele iria fazer quando não houvesse mais nada para destruir?”.
Levantei, retirei o video, reinstalei o game, entreguei o controle para o rapaz , passei a mão em sua cabeça e me dirigi para o quarto onde pretendia esconder as recordações ridículas do meu passado, e principalmente a boca do fogão da minha mãe que me acompanhava até aquela data.
Acesse de divulgue- http://quitandadasletras.blogspot.com/