Crônica de Outono
Verde... É a cor da minha nostalgia. É o que eu era a tão pouco tempo, mas que parece que já faz uma eternidade; verde...
Assim como nascem as folhas, de uma árvore, verde, talvez daí se derive a palavra 'verdade', ter a sinceridade de uma criança, de uma folhinha que acaba de nascer, verde e verdadeira. Mas a verdade é uma coisa que a gente nunca esquece, mesmo que deixemos de ser verde, mesmo quando a gente vai ficando amarelo, amadurece, a verdade sempre prevalece em nós.
Saudades do verde em mim é o que me resta, mas como o ciclo que se repete a cada ano, há um ciclo que se repete em cada vida, é a hora do outono chegar...
Em pouco tempo vi meu verde sumir, fui ficando amarelo, os ventos frios do outono começaram a soprar, cada vez mais e mais forte até me levar embora. Tudo bem, todas as folhas um dia vão cair, o outono chega pra todos, mas foi estranho deixar a árvore em que eu nasci, onde eu compartilhei o orvalho da madrugada e a luz da manhã por todos os dias da minha vida, me desprender do meu galho que sempre me nutriu com tanto carinho e que agora diz: "Você está pronta minha querida folhinha, agora você já pode voar!" E que voo incrível!
Pude ver o mundo além da minha árvore, pude conhecer muitas folhas de muitas outras árvores em pleno voo, vi lugares que nunca imaginei que pudessem existir, vi ruas, carros, pessoas e prédios. Mas a força da gravidade não permite que os ventos frios do outono me deixem voar pra sempre, é a hora de aterrissar.
Aterrissar num lugar desconhecido nem sempre é tão bom, mas as vezes é necessário.
Do chão nem tudo é tão bonito. Nem todas as pessoas te enxergam, várias delas pisam em você, agora sou só uma folha entre tantas outras, não importa a árvore que eu vim, não importa por onde eu passei, agora sou só mais uma folha amarela que o outono trouxe ao chão. Mas eu sei de onde vim e me lembro bem dos verdes tempos que vivi e que agora em uma dura e lenta metamorfose se transforma em saudade.
Saudade... Uma palavra que não cabe em tão poucas linhas, e tampouco pode-se traduzir.
O inverno logo vai chegar, eu sei que vou secar, sei que o vento vai me jogar de um lado para o outro e espero que ele me leve muitas vezes à minha árvore para encontrar meu galho querido de onde vim, mesmo que eu não faça mais parte dele, mas que agora ele faz parte de mim! E ainda que um dia meu galho quebre e caia, eu, folha seca, sei que um dia também vou quebrar, voltaremos junto as ao pó da terra para renascer como novas folhas, juntos, na árvore da vida, para sempre...
Verdes...
(A todos meus irmãos, familiares e especialmente aos meus pais.)
Heder Loose