MEU INESQUECÍVEL MESTRE

Cidade de Santa Rita. Rua Peregrino de Carvalho, anos de minha adolescência. Não preciso exatamente em que ano, mas sei que fora nessa época que ele me apresentou as primeiras noções da língua inglesa, da charada e das palavras cruzadas. Nem falo do jogo de damas nem do carteado do baralho.

Recordo-me, ainda, daquela maneira firme no falar com professoral paciência e, com os movimentos dos lábios e braços em gestos explicativos, pronunciando as palavras em inglês: búk, désk, pêncil, mórning, mais outras tantas, ensinou-me as primeiras noções da língua de Shakespeare.

Absorvia suas palavras com interesse de quem queria aprender, repetindo a pronúncia dos termos exatamente como por ele era ensinado. O velho mestre entregava-me, depois, uma relação com novas palavras para no dia seguinte sabatinar-me.

Ensinar sempre foi seu propósito e missão, seu dever e prazer maior. Isso porque percebia nos seus olhos vivos e inteligentes, sua alegria ao ver seu pupilo responder o significado das novas palavras e com a pronúncia correta.

Fui adotado como seu aluno, lembro-me. Talvez porque tínhamos afinidades em comum: ambos gostávamos de ler, recitar poesias, conversar sobre os mais diversos assuntos. Já discutíamos à época a filosofia dos grandes filósofos gregos, a exemplo de Platão, Sócrates, Aristóteles.

Incentivou-me o velho professor a aprender palavras cruzadas que era um dos seus passatempos prediletos, pois julgava que os conhecimentos de novos sinônimos monossilábicos e dissilábicos iriam facilitar-me a resolver os problemas de charada.

Não sei até hoje em que série ele parou os estudos escolares. Só sei que seus conhecimentos adquiridos de maneira autodidata, formaram o arcabouço cultural que o tornaram um poeta, um escritor e um intelectual digno de admiração.

Por fim, agradecido, carrego dentro do peito as melhores recordações do professor e amigo que, do alto dos seus atuais 91 anos, ainda continua lúcido, criativo e motivo de orgulho de sua esposa, filhos e parentes, além dos atuais e velhos amigos que têm a graça de tê-lo como fonte de inspiração e exemplo de vida. Assim como tenho...

Em 20 de junho de 2013

Por Washington Luiz do Nascimento

Washingtonluiz
Enviado por Washingtonluiz em 06/04/2014
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