O ÚLTIMO OLHAR

Foi no ano de 1971. Lembro-me. Na véspera da viagem para o Rio de Janeiro, fui pela última vez ao Colégio Estadual de Santa Rita.

Quando cheguei ao colégio, dirigi-me ansiosamente à sala do antigo 3º ano ginasial e, pelas frestas da janela, vi, olhei, sentindo o coração pular do peito, a menina-moça que foi a causa de enrubescimento de meu rosto por muitos momentos que jamais esquecerei.

Naquela hora de despedida, que era somente minha, mil pensamentos vieram entristecer-me à alma. Quando a veria novamente, e se um dia viesse a vê-la, o que lhe diria naquele instante.

São dúvidas que carrego desde então, pois jamais voltei a vê-la. Tentei ainda um contato através de uma carta no ano de 1978 que não teve resposta, rompendo definitivamente o sonho que se foi na esteira do tempo.

Lembro-me do primeiro contato que tivemos. Foi por meio de uma amiga nossa que nos apresentou e que percebia minha grande aflição quando a encontrava. Tudo se devia à minha timidez e embaraço quando pensava em conversar com ela.

Pelas lembranças ainda embaçadas pelo tempo, consigo lembrar que lhe dirigi algumas palavras soltas, sem nexo, trêmulas, algo como: tudo bem com você? Não sei o que ela respondeu, só lembro que nesse momento, o meu rosto só faltou incendiar-se tal era a vermelhidão que rasgou minha face de um lado a outro.

Talvez o que senti por aquela menina naquela época, tenha sido um amor singelo, não uma paixão ardente, coisa de gente mais velha. Ainda era muito jovem. Tinha apenas 15 ou 16 anos de idade. No entanto, não poderei negar jamais que sua presença me perturbava pela beleza e elegância únicas que emanavam de seu ser.

Todos os sábados, como de costume, ela ia à missa na igreja matriz acompanhada de sua mãe e irmã. Ficava eu, então, à espreita de sua chegada. Do ângulo onde me encontrava, podia vê-la e muito bem.

Ficava olhando insistentemente para ela, admirando-a como um católico admira a imagem do santo de sua devoção. Para minha alegria, de vez em quando, flagrava seu olhar em minha direção. Que forte emoção e êxtase comprimiam meu coração quando cruzávamos o olhar! Seria a felicidade?

Será que sentia admiração, paixão ou amor naquele instante de enlevo? Não sei, só sei que sentia...

Por Washington Luiz do Nascimento

Washingtonluiz
Enviado por Washingtonluiz em 06/04/2014
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