Drº Sapien Agon

Drº Agon

Pouco se sabe da origem de Drº Agon, o que se pode afirmar, com certeza, é que ele não tem parentes, nunca foi casado, não tem filhos e que jamais frequentou escolas. O "Doutor" foi lhe dado por aqueles que ouviram suas palavras sábias, todavia, ele refutou, veementemente, esse título. Dizia, ele, que o diploma é o certificado da irresponsabilidade.

Drº Agon vivia na calçada, era um mendigo que preferia a liberdade da vida e sempre afirmava que, dessa maneira, o mundo lhe é o abrigo e amigo. Geralmente, estava com um cigarro na mão, porém sempre apagado. Ele não fumava! Repetia sempre: todo bom mendigo, que se preze, deve ter um cigarro em punho.

Sempre com uma frase na garganta, Agon atirava suas pérolas aos porcos e todos que passavam por ele, aqueles que tiveram sorte, ouviram comentários que deslocaram tempo e espaço do estabelecido.

Sua fama percorria a cidade pequena de (não nos interessa o nome, afinal, Agon é sem fronteira) e a população fazia romaria para ouvi-lo, mas, nem sempre, Agon queria falar. Silêncio, silêncio, muitas vezes, era a sua palavra.

Era um homem de meia idade, cabelos lisos e mal penteados, olhos tortos e de viés, corpo lânguido, mas bem vestido ( ele dizia que o mundo não merece ver o esdrúxulo) e uma voz firme que ressoava como um trovão dentro daqueles que conseguiram ter a honra de vê-lo proferir suas palavras.

Pouco se levantava do seu local e jamais pedia esmolas; dizia que a esmola o violentava e que a doação é uma humilhação, tanto para quem recebe como para quem oferta. Ele, quando estava com fome,vendia suas frases e, dessa maneira, comprava o pão que alimentava o seu corpo forte de vida. Para Agon, o conhecimento deve ser trocado, vendido, leiloado, pois, o mundo e as pessoas não devem fazer da existência uma eterna petição.

Agon era um homem religioso, rezava, orava e buscava o divino; mas dizia que não tinha fé, apenas uma razão subjetiva. Para ele a vida é mais vida e todos têm vidas em vida. Não importava para ele céu e inferno, todavia o que se faz, aqui, para prosseguir lá. Sua fé era racional e sua razão era a loucura. Agon passou a ser o conselheiro da sua cidade; o oráculo dos transeuntes. Conselhos que ele mesmo negava a ofertar, pois para ele cada qual que tropece com seus pés e se envenene com o seu mundo.

Sua ideologia era a anti-ideologia, seu objetivo era não buscá-lo, dessa forma, sua vida e seu mundo eram suficientes e habitados pelo que ele chamava de MUITO, INTENSO, DEMAIS, VÁRIOS.

Drº Agon procurava o núcleo e o espaço desocupado, sua leitura era empírica, suas observações oblíquas e seus argumentos eram precipícios. Drº Agon era cidadão sem pátria, sem fronteira, sem limite; homem preenchido pelo nada.

Pouco se sabe sobre a história de Drº Agon, mas para que saber de quem não quer saber mais que o suficiente?

O cigarro na mão apagado, uma vela sempre acesa num canto e uma palavra queimando a vida, fazia de um simples mendigo o homem mais sábio que a sabedoria popular conheceu. Seu diploma teve o mérito e a aprovação de vários titulados, mas ele rasgava sempre que podia, mostrando que a sabedoria não precisa de um título ou um nome - renome.

Nunca se viu, desde os tempos mais remotos, as palavras queimarem como as que saíam do Doutor e jamais se encontrou a sabedoria sendo alimentada pelo depreendimento.

Ninguém sabe o que realmente aconteceu com Agon, pois, numa certa manhã, a cidade amanheceu surda de suas palavras; ele havia sumido, desaparecido. Alguns afirmam que ele falou tudo o que tinha que falar e não queria se repetir, por isso desapareceu na calada da noite. Mas o que se tem certeza é que Agon ainda ecoa, até os dias de hoje, e sua voz ainda guia muitos surdos de mundo.

Drº Agon é considerado o doutor dos doutores!

Mário Paternostro