Com certeza...
 
 
                               Com certeza,  não me acho com o direito de pedir que você não me abandone.
                        Logo eu, que tantas vezes, desde a adolescência, abandonava com divertida alegria, sem remorsos,  minhas namoradas.  Nunca parei pra pensar na dor delas. E sei agora que algumas sofreram muito. 
                        Portanto,  só posso dizer a você que vá e que seja feliz, pra não abandonar o clichê tão batido de desejar felicidades, felicidades que talvez não existam.
                        Mas hoje, diferente do meu tempo de mocidade, confesso, pelo menos para os meus leitores, que me invade uma nostalgia vaga e quanto mais vaga, mais dolorida.
                        As perguntas vão invadindo a minha mente atribulada: “Por que os relacionamentos são tão difíceis?”  “Por que sofremos com as perdas?”   “Por que me deixo dominar pela tristeza?”
                        Nessa hora a impressão que tenho, assistindo a sua partida, é uma sensação de estranheza,  como se você estivesse partindo para  um campo de concentração, onde um ditador qualquer irá fuzilá-la pela sua coragem em decidir sair do nosso deserto emotivo, para tentar uma nova vida, cheia de luzes, de encantos, de novidades.
                        Pensamento mais louco, não?  Mas nossa mente indomável  tem dessas coisas...  Outro dia relembrei que o nosso maior cronista Rubem Braga dizia que o amor é muito incômodo.  E uma leitora reagiu e escreveu uma carta furiosa para ele, não concordando.  O nosso cronista explicou que nada podia fazer, já que ele sentia, sim, esse incômodo.  Era, dizia ele, como uma dor de bursite.
                        Arrisco-me a dizer, diante dos milhares de impasses amorosos que acontecem todos os dias no mundo, que o amor é incômodo, talvez mais doído para os sensíveis, os sentimentais.  Deveria ser o caso do cronista, coração de criança, sentia  profundamente as dores do mundo, ao mesmo tempo que via melhor as belezas desse mesmo mundo...
                        Para não despertar a ira dos amantes de todos os tempos eu, modestamente, diria que o amor é como um resfriado (pelo menos o nome é menos feio que bursite), algo que aborrece um pouco,  ou então, parodiando aquele orador que falava de amizades e começava sempre assim: - “ Meus amigos, não há amigos”.
                        Portanto, terminarei assim: - “ Meus amores, amores antigos, presentes e quiçá futuros, meus amores, não há amores”.
                       Com certeza...  

                       

Nota:    Esta crônica é mera ficção, com o intuito de apenas divertir. 
            Com certeza!
Gdantas