Meia vírgula
A internet conecta quase todos e acelera a informação à níveis inimagináveis. Os relacionamentos que acompanham esta tecnologia, sobretudo os amorosos, também caminham mais depressa hoje.
Lembro-me da primeira vez que me chamaram para um encontro romântico: Suas mãos tremiam descompassadamente, ele suava e evitava olhar-me nos olhos. Acho que mil vozes gritavam na sua cabeça, e com certeza elas davam inúmeros motivos para que não se fizesse aquilo, mas ele fez. Entregou-me um bombom e saiu em disparada para qualquer lugar. O mimo que recebi guardava dentro de si um bilhete: “Estive te olhando. Lindo sorriso. Cinema às 19h?”. Demorei pelo menos dois dias para confirmar o pedido do meu pretendente (no fundo eu estava tão nervoso quanto ele).
Durante a exibição do filme, nada além de esbarrões (sem querer) e desejo reprimido. Havia em nós, contudo, uma grande satisfação em estarmos lado a lado, mesmo sem ao menos haver contato visual um com outro. Era o medo e a sensação de desejar e ser desejado que se misturavam. E, dessa forma, mais dois encontros aconteceram, até que resolvemos, discretamente, sentarmo-nos em um bar para conversar e nos vermos de perto, olho no olho... Mais três encontros até que ele visitasse minha casa pela primeira vez. Falávamos mais por carta que pessoalmente (quando nos víamos a garganta secava e ficávamos quase uma hora admirando um ao outro, mudos).
As cartas eram cheias de sentimentos, cada qual acompanhado por um suspiro, sinalizado pelas reticências (três pontos finais seguidos). Paixões proibidas exigem estas pausas, longas, indicativas de reflexão, pois nem tudo está no papel.
Já estes dias, vi um jovem marcar seu encontro pela internet, sem ansiedade, protegido pela tela do celular e anonimato da rede mundial de computadores. O diálogo, abreviado com siglas como “vc”, “fds” e outras, se resumiu a comunicarem um ao outro suas idades, atributos físicos e papel na hora do sexo, além, é claro, do local de encontro. Simples assim. Sem sustos.
Tão breve que ao invés das minhas velhas reticências acho que deviam usar meia vírgula.