Amores platônicos
É engraçado pensarmos no nosso coração e concluirmos o quanto ele pode nos enganar. Quando temos um amor não correspondido, fantasiamos e elaboramos tantas cenas com o alguém desejado, que elas parecem - quase - ter acontecido. E, quando chega longe de acontecer, quando um dia na presença se destaca um pouco dentre os demais, quando se recebe um pouco da atenção que esperava ter todos os dias e todas as horas, é como se estivesse acontecendo. A fantasia virado a rotina de alguns minutos menos duradouros que gostaríamos. Somos capazes de tanto imaginar, que passamos a ter o amor, a alimentá-lo a cada gesto pouco - nada - significativo. E quando se assiste a uma cena na qual você não faz parte, dá vontade de chorar e se sente cada lágrima caindo, como se cada lágrima representasse o motivo, a imensidão de todo aquele choro, de toda aquela dor. Mas, um dia, simplesmente passa. E, se não passar, é porque não se quer que passe. Acho que o melhor do amor platônico, é ser amor. E o pior, é ser platônico. Não, na verdade, não tenho certeza dessa assertiva. Quando ele passa, é bom saber que ainda se pode lembrar dos dias que "quase" foram algo além do costume. Dos bons e gloriosos dias. E por que não lembrar dos tristes também? Eles não te trazem dor, eles não significam mais muita coisa. Porém, quanto as dias bons... Esses dias ficam guardadinhos em um canto lá no fundo da memória, e quando reaparecem são somente bons e somente alegres. E você sente saudade do que não teve. Ou será que só se pensa que não teve? Porque, se pararmos para pensar, de fato tivemos. Tivemos um amor platônico e é dele que sentimos saudade e não de quem fosse o amor. Porque apesar de não ser muito concreto - e nenhum amor de fato o é - ainda assim, na maioria das vezes, você não se arrepende de tê-lo sentido. E nem sentido teria se arrependimento tivesse, já passou mesmo..