Greve
Bom dia meus caros 23 fiéis leitores e demais 36 de quando em vez. Estou ficando que nem o Jô Soares: o seu programa era chamado Jô Onze e Meia e nunca iniciava no horário. Eu também, não estou conseguindo manter as sextas 17:19 com vocês. E olha que sou obcecado por esse lance de dia e hora marcados. Adoro isso, mas a vida está sendo mais forte que as minhas obsessões literárias. Por enquanto...
Logo, essa é uma das raras vezes que vocês vão me ver por aqui no sábado pela manhã. Prefiro, na impossibilidade das sextas, estar aqui às quintas. Mas eu estou a fim de falar de greves hoje.
GREVE
Eu estava fazendo greve, sabiam? Sim, eu trabalho também, acho que disso vocês suspeitavam, né. Se faço greve, logo, trabalho. Lógica pura.
Até foi esse o motivo de eu não ter vindo ontem aqui. Não era uma greve contra as minhas colunas aqui nas sextas, óbvio, mas sim do meu trambe aqui em Charky City. Adoro greve, adoro fazer greve. O único incômodo é que dá mais trabalho fazer greve do que trabalhar, é uma diversão que dá trabalho essa, ao contrário do trabalho, que não é divertido. mas dá menos trabalho.
Devido à greve, tenho de acordar uma hora mais cedo para uma rotina de 12 à 14 horas, pois greve é agito, é pegar ônibus para ir na sede da empresa, na capital daqui da Groenlândia, NuuK, encher o saco do patrão, esse FDP. Toda o patrão é FDP. A não ser que ele seja seu irmão, seu pai ou seu sogro. Daí ele é um empresário sem visão social. FDP é só o patrão que não tem nenhuma relação familiar ou de amizade contigo.
Dá mais trabalho que o trabalho e a gente inclusive não ganha dinheiro por isso (que é a grande vantagem do trabalho), mas se diverte. Por exemplo: nada paga o prazer de tocar tarol e apitar na frente da sede da empresa, xingando o patrão. Bah, ele fica tri furioso com isso, mas nós, da greve, adoramos. Êta coisa boa sô!
Pegar o microfone do carro de som do sindicato e lascar o cara, então, é um prazer quase sexual, você sente aquilo que os intelectuais pós-modernos denominam empoderamento. Você fica empoderado com aquele microfone na mão, falando contra o patrão, ganhando o aplauso certo de todos que estão ali, todos a fim de descarregar suas contrariedades contra o patrão.
E tem os pelegos, os que não fazem greve. Claro, pelego é todo aquele colega que você não gosta. Você grita pra ele: "Ô pelego FDP, sem vergonha!" Já os seus amigos ou as colegas bonitas em que você está de olho não são pelegos. São colegas que não aderiram à greve por falta de consciência classista. Pelegos FDP são os outros. A Aninha do departamento pessoal, por exemplo: quem teria coragem de chamar ela de pelega? Só as outras colegas que não gostam dela, claro: "Ô pelega, FDP, vadia" (é isso que vocês estão lendo, nas greves do meu serviço a baixaria corre solta mesmo, despejada torrencialmente pelas bocas bravas). Os caras só falam: "Ahh, tadinha dela."
Mas não pensem que as mulheres também não tem seus prediletos e que não protejam eles. Haja visto o pelego FDP e sem vergonha do Maurício. Não vi nenhuma colega xingar ele, só porque o cara é parecido com o Antônio Banderas. Conclusão: ninguém presta, nem nós grevistas, nem os pelegos e tampouco o patrão.
O patrão é o mais isolado, coitado. Ninguém realmente gosta dele. Nós os xingamos e os pelegos o aturam porque não querem ir pra greve. Mas ninguém gosta dele. Já a Aninha e do Maurício tem seus admiradores.
Já o pior da greve é que ela acaba, pois ela é um oásis no meio do deserto que é o serviço. Você volta para a gratidão dos amigos e das colegas que você poupou e respeitou ao não xingá-los e para o ódio silencioso dos que você malhou sem dó nem piedade. Mas tudo bem, agora você, no trabalho, vai trabalhar menos e ainda vai receber por isso. Por outro lado, que bom que a greve termina, pois greve dá muito trabalho e trabalho demais cansa e é para louco.
Assim, sexta que vem estarei aqui, pois a greve terminou.
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Era isso pessoal. Toda sexta, às 17h19min, estarei aqui no RL com uma nova crônica. Abraço a todos.
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(Não sei porque eu ainda coloco o link desse blog, eu perdi a senha e não atualizo ele há séculos. Até eu descobrir o motivo pelo qual continuo divulgando esse link, vou mantê-lo. Na dúvida, não ultrapasse, né. Em 2014 talvez eu dê um jeito nisso... Mas acho que continuarei seguindo o conselho que a Giustina deu num comentário em 18 de outubro.)