A leve beleza e a bela leveza dos dias

As culturas são muito curiosas de se ver, mas a identificação se dá apenas quando se vive o lugar.

Eu não sei quando domingo voltará a ser meu dia favorito, mas, lembro-me bem de quando eu ainda fortemente enraizada em Vitória, morando em Vila Velha sendo uma capixaba legitima, do quanto os finais de semanas eram meus dias favoritos.

Sexta Sábado e Domingo. Lembro de pensar essa frase clássica: Eba chegou sexta!!

Já tinha a programação das festas e de tudo que iria curtir e fazer.

Depois que fui morar fora domingo então passou a ser o dia que eu não queria que chegasse.

Dia clássico da saudade, domingo é aquele típico dia em família e era muito doído estar em um domingo e tão longe. Era muito difícil e mesmo após 7 anos continua sendo um dia muito dolorido e vazio.

Mas, depois que comecei a trabalhar, e por conta minha profissão, passei a não ter finais de semana, quando as pessoas iam descansar eu estava indo trabalhar.

Assim os finais de semana perderam esse peso e passaram a ser mais leves, porque eu passava pelo menos metade do dia ocupada ou o dia inteiro, ensaiando, trabalhando. O que me deixava, além de realizada, muito mais aliviada

Meu desespero começa quando porventura ou descuido meu final de semana se transforma em folga.

É bem desesperado. E a primeira coisa que penso é: o que vou fazer da minha vida no próximo final de semana?

Ao passar 4 meses em um país onde, culturalmente ou por leis trabalhistas, não existe essa espera pelo final de semana, onde as folgas, os days offs, caem em dias completamente aleatórios, passei a viver o que depois de adulta sempre sonhei, um lugar onde qualquer dia é dia.

Perdi essa referencia do tão esperado final de semana.

Eu esperava pelo meu dia de folga, onde aí sim, pensava no que ia fazer naquele dia.

Sem essa pressão do final de semana de ter que sair porque todo mundo vai sair.

E talvez soe ridículo o que vou dizer, mas, há uma pressão muito grande na nossa cultura de quando se tem 20 e poucos anos e é solteiro, a cultura do tem que sair!

Não que eu não queria ou não goste, mas essa pressão me incomoda. Não é preciso que ninguém diga, ao sair na rua numa sexta feira os bares estão lotados, assim como casas noturnas.

Rotina essa que se repete no sábado e diminui a partir de domingo.

Nos EUA não. Qualquer dia é dia, as pessoas esperam por seus dias de folga.

Todos os lugares abrem sábados e domingos e funcionam em horário comercial. Todos os dias em qualquer balada terá mais ou menos a mesma quantidade de pessoas.

O dia que mais lota em Vegas, dia em que todas as boates abrem, é uma quarta feira.

E é vivendo assim que me sinto melhor.

Me sentia leve por não saber que dia era. Me sentia bela pelo domingo que perdeu esse poder de me fazer sofrer e passou a ter outra cor, e tudo isso me completou.

E é disso e dessa leveza e beleza que estou sentindo mais falta.

Cheguei há 15 dias e na primeira semana ainda estava leve e feliz, sem referencia. Mas aí por ter voltado a rotineira cultura, os dias voltaram a pesar.

E eu continuo querendo saber quando o Domingo voltará a ser só mais um dia que completa minha alegria.

Que sexta e sábado percam seus saltos, misturando-se com a leveza de todos os outros, mostrando que todo dia é belo por ser dia.

Todo dia é dia.

Barbara Marques
Enviado por Barbara Marques em 05/04/2014
Reeditado em 09/11/2016
Código do texto: T4756864
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