Eu, o cerne
Eu, o cerne
Nunca fui visto e os que pensam que me veem ou me viram, apenas, enxergam ou enxergaram a superfície de mim. O engraçado é que ando nu, exposto e com todas as vísceras à mostra. Muitos nunca me ouviram e nem me ouvem, mas, a verdade, é que vivo vociferando pelas esquinas do mundo; sou eu o grito da vida. A zona de conforto impede-os de me ouvir, quiçá, me entender. Sou incompreensível, vivo depois de amanhã, dessa forma, corrompo o tempo.
Em mim corre um rio que, de quando em vez, transborda e inunda a secura da vida. Sou a água que lava a sujeira do mundo. Aqueles que se afogam em minhas águas, golfarão vida. A vida que foi morta na própria vida.
Nunca estabeleci planos, não tenho bula nem receita, apenas percursos. Sigo sem ser levado, não sou folha que vaga; vou como quero, dessa maneira, em mim está a vontade.
O passado deixou espaços vazios; o presente é fugaz; o futuro é todo instante. O tempo e eu não combinamos!
Eliminei o sonho das minhas noites e vi o inferno que há em meu âmago. Vivo, em pesadelo, acordado!
Nunca aceitei a brisa e a primavera, sempre procuro os tormentos e a insônia; neles está a raiz da vida.
Víbora Notívaga