A corrupção nossa de cada dia...

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Ao ouvir, certo dia, uma Procuradora de Estado proferir uma palestra para educadores/as, tive a aquiescência sobre algumas ideias que também me povoam a cabeça.

Discernir o público do privado; radicalizar a democratização do acesso aos serviços e às políticas públicas; garantir a igualdade de direitos e o respeito às diferenças, bem como o exercício ético no serviço público, são algumas concepções que temos em comum. 

Assim como, a compreensão de que atitude ética, simplificando, são atitudes que eu tomo e que todas as demais pessoas também podem tomá-las, sem prejuízo de ninguém. Afora falsos moralismos, creio iniciarem aí nossas contradições, incoerências, equívocos ou pequenos vícios que desencadeiam a 'corrupção nossa de cada dia'.

Na sociedade atual, pequenos deslizes diários, acabam sendo aceitos e legitimados, muitos naturalizam-se de tal maneira, que pensar ou agir diferente do senso comum, é correr o risco de ser rotulado pejorativamente, quando não, ridicularizado em público.

Por este viés, muito superficialmente, pontuam-se pequenas atitudes, que podem depor contra quem as pratica, como: Aguardar sua vez sem furar a fila, parar para o pedestre atravessar a faixa de segurança, ceder o lugar no transporte público, oferecer carona, cumprimentar as pessoas ao adentrar espaços coletivos, não usar telefone institucional para fins particulares, não utilizar espaços públicos para expor símbolos, imagens ou fotografias de crenças pessoais ou de familiares, entre outras...

Segundo a Procuradora, o famoso jeitinho brasileiro, de desrespeitar 'a coisa pública' chegou ao Brasil junto à bagagem da família real, citando o livro 1808, o qual versa sobre os absurdos cometidos pela monarquia, ao julgar-se no direito de abusar do restante da população brasileira. Ainda, enfaticamente, a palestrante, ressalta que a corrupção é algo inerente ao ser humano e quanto maior a população, maior o número de corruptos, considerando que é do ser humano tentar burlar regras, levar vantagens e corromper-se. 

Pergunta-se: será que somente o político mau caráter é corrupto? O cidadão/ã que desvia do Imposto de Renda; que não respeita os direitos da diarista; que recebe pensão indevidamente; que omite informações em cadastros públicos; que altera a quilometragem do veículo para passá-lo adiante; que recebe troco a mais e não devolve; aluno/a que cola na prova; profissional que não cumpre a carga horária... enfim, enumerar todas as vezes em que o discurso e a prática se dicotomizam, seria um absurdo, tornaria enfadonha a leitura...

Ficam alguns questionamentos...
Todo ser humano é corruptível?
Diariamente, comete-se atos ilícitos, por mínimos que possam parecer, mas comete-se... por que então, aponta-se o dedo apenas para o outro?
Não seria prudente, urgente e necessário, nos perguntarmos também:  quando é  que  paramos para nos educar e refletir eticamente, sobre a 'corrupção nossa de cada dia'?  
 
Gelci Agne
Enviado por Gelci Agne em 03/04/2014
Reeditado em 04/04/2014
Código do texto: T4755453
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