Isso então é vida?

                      " O humor é a chave dos corações dos homens, porque
                       brota do coração". Mark Twain
 



                Acordei às seis da manhã, como é meu costume.  Mas uma preguiça inesperada me fez dormir mais um pouquinho.  Pensei: - só mais uns dez minutinhos para fechar com chave de ouro o sono que havia sido tranquilo por toda a noite.
            Acordei, novamente,  uma hora depois, com o coração acelerado. Não era pra menos, tinham acabado de levar meu carro (no sonho naturalmente), numa ação inusitada.  Até acho que foi um sonho premonitório e um  alerta para nova modalidade de roubo de carro que talvez surja no futuro.
            Desço uma ladeira muito íngreme e estaciono o carro num terreno vazio. Já estou do lado de fora.  No mesmo instante aparece um motoqueiro, um cara moderno, com tatuagem nos braços, argola no nariz. Faltava pouco para ser um índio, pois não tinha ainda aquela vareta entre as duas bochechas.
            Vejo o cara com uma espécie de controle remoto na mão e pasmem os amigos leitores:  com esse controle ele movimentava o meu carro. Reclamei, e o cidadão moderno me disse que estava só afastando o veículo de perto da moto. Mas logo notei que meu carro começou a dar ré, virou de repente e começou a subir a ladeira. O motoqueiro, na frente do carro, subia também, rumo a uma rodovia de intenso tráfego.  Eu corria atrás, como louco, gritando que estavam roubando meu carro.  Foi quando percebi a inutilidade da minha corrida. Pensei rapidamente: - “ é melhor eu acordar, senão acabo tendo um treco”.  Acordei com o coração saindo pela boca e arrependido desse soninho.   
            Sinceramente, às vezes é melhor ficar acordado a noite toda, só pra não sofrer esses pesadelos que podem até matar.
            Agora entendo os pais que não dormem quando seus filhos adolescentes saem à noite e só voltam de madrugada. Se dormissem, com certeza teriam pesadelos horríveis.
            Minha mãe, por exemplo, não dormia enquanto  eu não chegasse de minhas “festas”.  Eu até tirava os sapatos, na hora que passava sorrateiramente pelo quarto dela.  Mas não adiantava. Acabava de passar e ouvia: - “Gilberto, chegou  bem?”  Nem respondia, só de raiva!
            Gosto de lembrar daquele pai temeroso, que também não dormia quando seu filho saía à noite.  Essa estória era contada pelo Moacyr Scliar. Esse pai ficava a noite inteira vendo filmes na televisão, em um programa chamado “madrugadão”.  O filho era boêmio, saía toda noite. Numa dessas madrugadas, o ator James Cagney, mirou o pai da tela e disse: “Vai dormir rapaz. Já estou farto de te ver aí todas as noites!”.
            Isso é vida?