O milagre do cartão
Tenho um certo toque de Midas que me faz quebrar todos os cartões em que encosto. Foi assim com o cartão de entrada no prédio em que trabalho, o que me obriga a pedir diariamente um cartão de visitante na portaria. Depois de alguns meses dizendo aos porteiros o número do meu RG, eles finalmente desistiram de perguntar se eu era do “DF” e agora já sabem que o meu estado de origem tem algum S (de vez em quando eles chutam “MS” ou “RS”). Mas essa é uma rotina a que já me acostumei, pouco problemática perto daquela que tive ao quebrar outro cartão.
Porque era justamente o cartão da minha conta bancária. Foi apenas uma pequena rachadura, mas o suficiente para que ele deixasse de ser reconhecido pelos caixas eletrônicos. A coisa mais lógica a se fazer era pedir ao banco um novo cartão. O problema é que, em consequência dessas minhas andanças pelo Brasil, a minha agência bancária não fica na minha cidade, mas em Curitiba. E por maiores que fossem as saudades de lá, não havia jeito de eu ir pessoalmente resolver o problema.
Enquanto isso, eu continuava precisando de dinheiro – cheguei a pensar até com certo carinho naquelas moedinhas de dez centavos que tenho acumulado. Mas a verdade é que eu tinha contas grandes para pagar. A saída era sacar no próprio caixa do banco. Foi quando eu descobri o seguinte: se aquela não é a sua agência bancária, você só pode sacar no caixa 100 reais por dia.
Tive então uma visão do inferno: eu obrigado a ir diariamente ao banco na hora do almoço. Mas foi quando aconteceu aquilo que um crente chamaria de milagre e um cético de coincidência. Naquele dia eu conversei com a minha mãe, que ainda mora em Curitiba. E antes que eu contasse a minha história, ela perguntou se eu por acaso havia pedido um novo cartão para o banco. É que havia chegado um novinho em folha para mim, parece que com outra tecnologia.
Em dois dias o cartão estava na minha mão. E, se eu conto isso em crônica, é para que não se confunda com a ficção.