Frenesi
Não consigo partir deixando seus olhos lançando lâminas em meu peito, emergindo lágrimas, afogando minha alma triste. Não posso respirar sem sentir a tua paz, não poderei adormecer sem recordar que em algum lugar, seus pés estarão passeando por onde contornam seus desejos. Não necessito tocar seu rosto, apenas guardar sua imagem, consciente de sua existência.
Marcas de dias cinzentos e palavras afiadas dividiu nosso mundo ao meio, mas deixou o silêncio e o lobo que uiva solitário na grande montanha. Não ouço seus passos, mas você está por toda parte, até nas lembranças mais fúteis, nas paisagens sem cores e nas diversas faces. Sua ausência me faz temer a mim mesma, como se estivesse no escuro. Cobri seus retratos para não ser mais assombrada.
Quebrei sua corrente do meu calcanhar, agonizei te vendo partir levando o que era meu, aquilo que nunca pôde me devolver, mas que distante de mim morrerá também. Tudo que te rodeia passeia em meus sonhos, ignoro sua existência engolindo a dor que tanto me transforma a cada novo amanhecer.
Ainda permanecem aqui os vestígios desse fardo que não suporto mais carregar. Não quero ser mais teu escudo e muito menos a lança que fere teu peito. Não quero ser mais qualquer figura marcante em seu caminho. Tomarei minhas doses de amnésia e a curarei essa abstinência sufocante. Todas as formas de vida me farão esquecer.