Cuidando do meu metro quadrado
Hoje ao chegar ao trabalho de bicicleta estacionei-a e fiquei aguardando o motorista chegar para me levar ao departamento no qual sou lotado e consequentemente os demais colegas de College. O motorista sempre autorizava os pesquisadores a entrare no carro e dizia que eu iria depois, abro aqui uma ressalva: nem nas universidades brasileiras muito menos em Colleges o motorista se intromete na autonomia de pesquisadores pior ainda dizer quem vai entrar primeiro. Mas, admitindo minha autorresponsabilidade, já tinha aprendido que o único responsável pelo bom desenvolvimento onde estou sou eu mesmo, então eis que o motorista chegou com uma moça na frente e solicitou a minha entrada. O condutor do veículo se deu conta do ato falho (pedindo uma ajuda à psicanálise) inconsciente de que não gosta de mim e tentou se justificar dizendo que eu era o pesquisador mais novo do departamento e que me deixou por último para eu apreciar mais a energia do campus. Eu aproveitei a “deixa” e o agradeci desejando uma ótima semana e usei a célebre frase que sempre cristãos devem usar com quem nos desagrada: Deus te abençoe! Adaptada para o local ficou: God bless you! O mesmo levantou evidências negativas do Brasil, enquanto eu me ocupava em elogiar o país em que estava até porque meu visto era de trabalhador. Ao entrar no laboratório, tinham dois professores discutindo alto em um inglês nativo. Procurei fazer meu experimento e, por causa do meu silêncio e tolerância, os dois ficaram com vergonha e pararam. Quando completei quinze dias de trabalho, inexplicavelmente muitas pessoas me cumprimentavam nos corredores do College, mas eu não entendia. Quando eu já estava me sentindo sufocado, primeiro pela solidão de estar sozinho noutro país e segundo pelo excesso de requisição que embora não fosse relacionada diretamente ao trabalho por que não tinha dado tempo a minha pesquisa obter um resultado que desse notoriedade, comecei a me perguntar a razão. Dirigi-me ao chefe do departamento e o questionei sobre a situação e ele me respondeu justamente o que aponta o título da crônica: você cuida muito bem do seu metro quadrado, por isso muita gente quer sua companhia. Primeira lição que aprendi vivendo em outro país: quem manda energia boa, recebe energia boa!