Entre homem e mulher
Não se pode haver amizade entre homem e mulher – pode haver paixão, hostilidade, adoração, amor, mas não amizade. Este era o pensamento de Oscar Wilde que ele procurava refutar. E certamente porque lhe custava admitir que fosse verdadeiro. Pois não tinha ele amigas mulheres? Pessoas por quem não se sentia especialmente atraído? E, no entanto, às vezes admitia que na primeira oportunidade teria saltado da amizade à paixão, ao amor – e quem sabe até à hostilidade.
Nos últimos tempos, andava mais próximo de uma amiga em especial. Quando se conheceram, ainda havia nele o desejo de que não fosse apenas uma amizade. Mas ela estava comprometida e ele não quis insistir. O tempo passou sem que nada acontecesse e ele já havia se acostumado a ter apenas a sua amizade. E amizade das boas, porque em pouco tempo ele havia conquistado a confiança dela e se tornado praticamente o seu confidente.
Agora ouvia tudo o que ela tinha a dizer a respeito dos seus amores. Mas ouvia com interesse, e chegava até mesmo a dar conselhos para ela – tudo para que o romance dela vingasse. Não chegava a sentir ciúmes daquele que podia beijar a mulher que lhe oferecia apenas a amizade. Havia até uma certa superioridade na sua condição, pois tinha conhecimento de tudo o que se passava entre eles. Ajudava com sinceridade, mas lá no fundo se escondia o desejo de que fosse ele o escolhido.
Foi por isso que lhe incomodou tanto quando ela disse assim: “A nossa amizade é especial. A gente está sempre junto, mas sem sentir interesse um pelo outro. Isso é bem difícil hoje em dia”. Ele concordou, porque realmente era bem difícil. Mas se sentiu um grande mentiroso, porque percebeu que, dentro de si, ainda havia interesse e disposição para manifestá-lo assim que tivesse uma chance. De maneira que aquela relação não provava que homens e mulheres podem ser amigos – não servia de argumento para refutar a ideia de Oscar Wilde.
Pensou então se não seria o caso de pedir um tempo.