O PERDÃO E A RENÚNCIA.
Não há perdão sem renúncia. É preciso renunciar aos padrões pessoais que não cedem em nome da harmonia para poder perdoar. Não há maior gesto de grandeza do que apagar a mágoa, renunciar às exigências pessoais para exercer o perdão, fazendo-o de forma franca e verdadeira. E esse exercício conforta por recepcionar a leveza de não mais carregar a nódoa do ressentimento.
Em favor do sorriso, da alegria de poder conviver sem aparelhamentos estabelecidos, que barram a sinceridade nas condutas, é necessário renunciar às vaidades pessoais que levam aos enfrentamentos opiniosos e rígidos, sem aparar os indesejados adjetivos que dilaceram as almas, os interiores ofendidos, ainda que ofensa não houvesse, mas assim entendida.
É preciso compreender que nem todos compreendem. As etapas da compreensão chegam, se chegam, aos poucos, pela prática constante de neutralizarmos a vontade de sermos “dominus” de qualquer coisa na exterioridade humana. Não existe senão relatividade nas verdades.
Quantas vezes em nome da cordialidade deixamos de responder, silenciamos, negamos até mesmo um conhecimento maior sobre o que se debate ou discute, enfim, renuncia-se para que a fogueira não seja alimentada pelo combustível da prorrogação da testilha verbal.
Para ser perdão é impositivo antes ser renúncia. Ela alarga horizontes e traz a paz de uma vida melhor.
Não há mar de tranquilidade onde as ondas vindas dos maremotos sacodem revoltosamente suas águas, e matam e fazem sofrer. É como terra em um copo de água, se deixamos quieto o copo a água se assenta e fica límpida, se sacudimos o copo a água deixa de ser clara. É dessa clareza que precisamos para renunciar e perdoar.