31 DE MARÇO

O que foi feito de Carlos ninguém sabe.

Naquele ano de 1969 (ou seria de 1968?), Carlos – menino de tudo, como as irmãs, meus primos e eu – só queria brincar.

O pai de Carlos era esquisito, jamais saía de casa. Se tanto, ia ao portão, sempre de cabeça baixa, e ordenava:

-- Carlos, hora de entrar.

Um dia levaram o pai de Carlos. Pra onde? Ninguém sabe.

Carlos se foi, junto com o pai, a mãe, os irmãos. Nunca mais se teve notícia de Carlos. Para onde os levaram é uma incógnita.

Depois, disseram aos meus tios que eles eram, todos eles, “terroristas”.

Ufa. A vizinhança passou a respirar aliviada.

Guri de tudo, eu procurei Carlos naqueles cartazes com fotos (que o governo punha nos bancos, lojas e sei lá mais onde) com um sonoro “Procura-se”. Nunca encontrei a foto de Carlos. Nem a de seu pai.

Por onde andará Carlos?

http://orlandosilveira1956.blogspot.com.br/

Orlando Silveira
Enviado por Orlando Silveira em 01/04/2014
Código do texto: T4751941
Classificação de conteúdo: seguro