Sthefany e Tio Mano - Quit Lilás II
Stephany e Tio Mano
Acordou mais cedo que de costume, abraçou seus pais, deu-me um beijo de “Bom Dia” e foi brincar com sua coleção de Barbies. É divertido ver como sabe lidar com uma boneca sofisticada, que possui um guarda-roupa de luxo com acessórios que nem toda ‘lady’ classe A possui.
E como tem paciência ao trocar, em poucos minutos, os vestidos com os complementos e organizar um belo desfile, como se estivesse vivendo aquele instante ‘fashion’! Em dado momento, esquece a brincadeira e vem até mim:
_ Olha, vó! Caiu um dente da minha boca! _ Fala, mostrando o segundo dentinho inferior, que aumentara a porteirinha entre os dois lindos fios de pérolas que, cuidadosamente escova as vezes necessárias para conservá-los limpos e brilhantes.
_ Sabe, Teté, você ficou bonitinha assim, banguelinha…
_ Não sou banguela, não, vó. Vai nascer outro no lugar… _ Revida quase chorando.
_ Quando tinha a sua idade, também mudei os dentes, isso é comum a todas as crianças que atingem os cinco ou seis aninhos. Também ficava triste mas me conformava, sabia que ia nascer outro no lugar. Quando estava bem amolecido, minha mãe amarrava uma linha e puxava para retirar. Não doía, nada. Depois, eu dizia três vezes: “Mourão, Mourão, pega este dente podre e dá o meu são.” E jogava-o em cima de um telhado.
_ Engraçado!... E o Mourão dava logo o outro?
_ Não, filha, o Mourão não existe, isso era só uma brincadeira que as pessoas antigas inventavam…
_ Ah!... Agora entendi, vó.
A princesinha correu e foi buscar uma caixinha onde estava o primeiro dentinho e colocou o outro com todo cuidado, fechando em seguida.
_ Por que você guarda seus dentinhos, Teté?
Os olhinhos da princesa brilharam e ela fez um sorriso maroto, exibindo a porteirinha indesejada, mas que lhe dera uma graça incrível. Carinhosamente, respondeu toda dengosa:
_ Vou dar de presente ao meu tio Mano, pra ele guardar e se lembrar de mim quando eu ficar grande.
Tio Mano é o meu filho Germano Sachs, que a ama como se fosse sua filha, desde que ela nasceu. Sempre quando volta do trabalho, ela corre e vai abraçá-lo numa alegria estonteante. Hoje, ela o aguardou de forma diferente, olhando de vez em quando, à espera de que o portão se abrisse. Continuou a brincar com suas Barbies, organizou os desfiles e quando de repente o portão se abriu, ela pegou a caixinha mas, ao correr, os dentinhos caíram, rolando para debaixo da cama… Qual não foi sua tristeza por não fazer a surpresa ao tio, como havia planejado! Ele, ao vê-la chorando, vai saber o que acontecera, tomando-a nos braços. Ela, soluçando, fala com voz entrecortada e com os olhinhos cheios de lágrimas:
_ Tio Mano, o seu presente…
_ Que presente, Teté?
_ O seu presente caiu… Debaixo da cama… Eu… Eu ia lhe dar e caiu!...
_ Deixe que o titio pega pra você…_ Diz, procurando em vários ângulos, mas não encontra.
_ Não estou vendo nada aqui, Teté… Olhe! Só encontrei isto: uma caixinha vazia. Tinha alguma coisa dentro dela?
_ Tinha meus dentinhos… Eu guardei para lhe dar de presente… _ Fala, soluçando.
_ Não chore, o Tio vai procurar, você põe na caixinha e me dá de novo. OK?
Então, o sorriso iluminou aquele rostinho angelical e ela entregou-lhe o presentinho, abraçando-o com todo o carinho e afeto do seu coraçãozinho, contente em ver que seu querido tio ficara feliz.
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Maria de Jesus A. Carvalho
Fortaleza, 31/03/2014