A primeira vez no Tribunal do Júri
 
 
 
                        Cursava o segundo ano de Direito. Ou seria o quarto ano? Tenho quase certeza que era o quarto ano.  O nosso professor Evaristinho, grande criminalista da época, convida a turma para assistir um júri, tendo ele como advogado de defesa. Foi a turma toda para o Primeiro Tribunal do Júri, na rua Dom Manuel, no Rio.  Pelo menos uns cinquenta alunos lotaram as galerias. Na entrada do fórum um pipoqueiro vendia todo o seu estoque para os alegres alunos.  Comprei o meu saco de pipocas.
                        Os debates depois de algum tempo começaram. Eu, ávido por aprender a arte da defesa, enchia a boca de pipoca. Outros colegas faziam o mesmo.
                        De repente, o susto!  O Juiz- Presidente do Tribunal do Júri interrompe os debates (eu tinha acabado de dar um adeusinho para o Evaristinho).  Era o Talavera Bruce.  Ele, aos gritos, olhando para nós da plateia, nos ameaça:  -  "O que vocês estão pensando?  Estão pensando que isso aqui é circo?  Pensam que podem comer pipocas?  Expulso tomo mundo do recinto."
                        Devo lembrar aos amigos e amigas, meus queridos leitores, que a época era do Rio Maravilha. No entanto, nem tudo eram flores, ainda havia um certo carrancismo (neologismo inventado pelo AAA- Antonio Augusto Affonso), como me  dizia esse  colega de trabalho, exímio datilógrafo, revoltado com sua condição de humilde funcionário "barnabé" tacava sempre suas iniciais: AAA. Eu achava que era piada dele. Não era.  Era um misto de ironia raivosa.
                        Com esse episódio do Júri, acabei carregando  esse trauma comigo até os dias de hoje. Só como pipocas em fila de Banco, mas sempre assombrado e vigiando o gerente, com medo de ser expulso, por falta de decoro. Mas se o gerente tiver a cara do Bruce Lee (lembrando-me o Talavera Bruce), eu mesmo saio de fininho do Banco.  Ora, pipocas!  Sem AAA.

 
Gdantas
Enviado por Gdantas em 30/03/2014
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