GOSTO BOM DE DOMINGO
Domingo “pede cachimbo” e pouca pressa, lentidão do nada por fazer. Acordo mais tarde, premiando-me com a delícia de não respeitar o relógio do dia-a-dia.
Com preguiça, abro os olhos e ouço, lá fora, o barulhinho suave da chuva. Como dizia meu pai, chuva criadeira, sem ruidosos arroubos e mansa, para preparar a terra, matar-lhe a sede.
Lentamente me levanto, agradeço a Deus por mais um dia, peço proteção a todos nós e Luiz já fez o café, cujo aroma se espalha pela casa. Café bem caseiro, daqueles que minha mãe fazia, torrado e moído em casa. Sinto dele o sabor impecável, gostosamente preservado.
A mesa posta lembra-me o carinho de minha mãe, que não deixava faltar aos domingos o delicioso cuque de banana, com farofa doce por cima.
Ah, que gosto bom de domingo! As vidraças choram os pingos da chuva, um choro que não é de dor, mas de tranquila aceitação. Os outros da casa dormem, merecidamente, o sono dos justos. Preparam-se para a corrida incessante da próxima semana.
Os cômodos, em penumbra nublada, tornam o ambiente aconchegante e, incrivelmente, silencioso. Sinto a presença Divina em meu lar, onde tudo é paz.
Luiz lê a revista semanal, meus filhos dormem e eu estou aqui com a manhã na palma da mão, assentando-a doce e calmamente em minha alma. Assento-a como uma boa ideia dominical, cujo argumento mais convincente é de que não há razão para nostalgia aos 59 anos, quando ainda há um futuro a ser alcançado.
Um sorriso, bem domingueiro, ilumina-me o rosto e, quase numa reverência, digo a mim mesma que o domingo pede cachimbo, entretanto, principalmente, pede que eu ouça muitas canções em homenagem ao fato de amar e ser amada. Este é o argumento mais forte, Deus em casa. Forever Young.
Dalva Molina Mansano
30.03.2014
11:14