A MULHER E OS PEÕES DE OBRA

A mulher é a arte maravilhosa que Deus caprichou.

O ser humano por natureza é sedento por elogios, por coisas que massageie seu ego, e a mulher por excelência é ávida por isso. O elogio é o santo remédio para qualquer desapontamento ou azedamento no relacionamento.

O elogio é como uma poção que consegue transformar magicamente o humor desencantado em amenidade, principalmente em se tratando da mulher. É o combustível que a mantem sempre linda e brejeira.

Segundo o dicionário, o elogio é o enaltecimento de uma qualidade ou virtude de algo ou alguém. É um poderoso motivador para aumentar a autoestima.

Embora, como alguém já disse que o elogio tal qual o ouro e os diamantes tem seu valor pela escassez, não podemos menosprezar os preciosos momentos que surgem para praticar o processo do elogio. Os peões de obra são craques nisso e dão exemplo, principalmente quando trepados nos andaimes.

Ao passar por uma obra, a mulher é divina para aqueles cafajestes. Para eles, ela pode ser gorda, magra, alta, baixinha, feia ou bonita – sempre será a gostosona. Lá do andaime, proliferam elogios que caem sobre a vivente como chuvas de flores perfumadas.

Estes tarados dos andaimes, quase com certeza são casados estúpidos que não sabem valorizar a joia que tem na própria casa. Para sua companheira de suas bocas saem apenas vómitos de reclamação, de desdém. Mas quando em matilha são ávidos em gentileza, e de seus lábios partem elogios aos montões.

João era um desses peões de obra que tratava a mulher na ponta do casco. Na obra a voz dele se unia a dos outros canalhas para despejar toneladas de grosseiros elogios ao rabo de saia que passasse lá em baixo.

Cafajeste na obra, mas canalha em casa.

Ele não sabia, mas Maria, sua esposa sentindo-se mal amada buscava sempre a autoestima passando propositadamente pelos prédios em construção. Voltava sempre renovada.

Um dia, como sempre, depois das grosserias sofridas pelo canalha marido, saiu à rua para se abastecer de bons fluidos, e conseguir assim seu ego massageado.

Passou por um prédio em construção que amainou um pouco o seu sofrimento, ouvindo deles:

- Gostosona! Linda!

Aquele dia ela estava muito desolada e saiu então para uma construção maior, e quando já estava chegando perto começou a ouvir a linda sinfonia que em casa não tinha:

- Gostosa!

Ficou com vontade de parar e agradecer, mas permitiu-se apenas o prazer do momento e recatada, de ouvidos bem abertos, continuou seu caminho de volta para casa.

Eram milhares de peões que se aglomeravam nos andaimes para quase babando, como cães vadios tarados, gritar elogios a ela. Era de uma grosseria a toda prova, mas para ela era a música suave que há tempo não ouvia.

Assovios estridentes no seu fiu, fiu e palavras de ordem.

- É a nora que minha mãe queria em casa!

E a sinfonia continuava implacável, e ela em passos quase trôpegos caminhava ouvindo feliz tudo aquilo.

- Que bunda gostosa! Que seios! Poderosa!

Mas o João, que estava no meio deles gritando, de repente parou, olhou atônito, e ficou desconcertado quando viu que a gostosa lá de baixo era sua esposa.

Foi a melhor lição que ele teve para seu relacionamento.

O grosseirão, o canalha de sempre, ao final do expediente, passou por uma floricultura, e rapidinho em casa foi abraçar a gostosona dos peões, pedindo mil perdões.

Mario dos Santos Lima
Enviado por Mario dos Santos Lima em 29/03/2014
Código do texto: T4749107
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