BUM

Ele não era mais Atlas. Ele não queria mais ser. O peso do mundo está fora do comum... Aquele mundo sob suas costas já pesava toneladas que faziam suas pernas tremerem.

Acordar era um pesadelo. Quando se acordava... Mas a cama era o paraíso mas ele já havia sido expulso dela como Adão há muito tempo. Já não sabia o que era dormir. As horas eram invertidas e as noites claras enquanto os dias eram escuros. O tempo era lento... Cruelmente lento... Extremamente lento. Os ponteiros do relógio eram uma forma de tortura.

As rugas chegarão antes da hora, as olheiras eram constantes e os cabelos foram embora cedo demais, os que ficaram se tornaram brancos. E na sua cabeça tudo era grisalho. A sua visão era grisalha. Tudo ele via cinza, sem cor. Quando ele começava a pintar um arco-íris no céu as nuvens cinzas voltavam com toda sua força.

Saúde também já não tinha, mas tinha que ter. Sorriso era uma máscara constante. E tão bom ator que ninguém percebia a face coberta de cicatrizes sob a máscara. A voz vinha e voltava... Rouco o tempo todo de estar engasgado por todas as palavras que não dizia... Por todos os pedidos de socorro presos em sua garganta.Os gritos que ele não dava ecoavam em sua cabeça constantemente. Junto com as vozes que ele começou a ouvir...

A solidão era sua parceira constante. Ela o envolvia em seus braços frios quase o tempo todo. E mesmo no meio de alguma multidão a solidão fazia questão de marcar sua presença.

Ninguém ouvia seus gritos de desespero. Ninguém via sua pele machucada. Ninguém percebia sua infelicidade constante. Era o homem invisível para os outros a não ser quando precisavam dele. Ele era um ótimo capacho afinal engasgado com tantas palavras já não podia dizer nãos... Ou algum sim...

Futuro isso era apenas uma palavra sem significado. Uma palavra doída... Porque o futuro parecia não acontecer e se resolve pensar nele ele sempre parecia negro, solitário, miserável.

Então ele resolveu acabar com tudo isso, com toda carga, peso, engasgos, tristezas, solidão... E com o revolver na mão sorriu. Ele sabia que aquilo era a chave, a saída, a solução... Não que ele não gostasse da vida. Ele gostava, ele só não suportava mais a dor. E a dor solitária era o que ele queria colocar ao fim... E de brinde quando ela acabasse a vida iria junto, mas pelo menos não iria mais sofrer. A dor ia embora... O mundo ia embora.

E ele acariciava o revólver como se o amasse, o frio do metal em seu rosto era uma sensação deliciosa de alívio. Uma respiração funda e ele o coloca em sua cabeça... Não quer pensar mas vê toda sua vida passar em um segundo... E BUM e CRASH e PLEM...

Lá se foi sua imagem no espelho.

E de novo lá vai Atlas suportar o peso do mundo mas um dia isso termina ou ele termina com isso... Ou tudo pode mudar... A maldita esperança ainda o move. Maldita... Mais forte que a dor, que a solidão e que a vida...