Era um domingo - Kelvi Klaine

Guarulhos, 09 de Março de 2014

“Era um domingo tardio, comum para os outros. Pra mim, era o tão sonhado. “

Chegou o grande dia. O dia de finalmente ir vê-la, de finalmente distinguir isso que sinto toda manhã e toda hora a dormir.

Eram umas 12 horas da tarde (não lembro muito o horário preciso) tinha partido do mau bairro em direção a uma casa fastada, recebendo a humilde carona de um grande amigo (Alexandre Ramon) a um ponto mais próximo do destino tão esperado. Ele me trouxe a quase metade do caminho, pois como ele estava em expediente de trabalho, era o máximo de onde poderia me levar. Muito bem, desci ali mesmo, em um ponto pouco afastado da barra/AV Tietê, andei cerca de 40 minutos a pé. Consegui pegar o ônibus com destino direto ao terminal Sacomã (em SP). O transito travou, não saia do lugar por uma hora. Sendo assim como muita gente optou por pegar outro ponto mais a baixo, fui-me junto a eles. E finalmente depois de quase uma hora esperando o próximo ônibus, embarquei em destino direto ao terminal. Depois de mais ou menos uma hora, cheguei ao destino. Eram já umas 6 da tarde (um horário preciso, pois era este o que meus pais me impunham a voltar pra casa).

Ao descer no terminal, permaneci na plataforma ½. Liguei para ela, depois mandei mensagens para me encontrar lá. Um tempinho depois, vejo ela vindo (dizem que quando vemos uma pessoa amada pela primeira vez, nossos olhos dilatam, nosso coração acelera e para por medo, nosso corpo trava, a felicidade realça) pensei demasiadamente, Sentindo-me tão bem, como se aquele abraço absorvesse todos os meus problemas, como se automaticamente, os colocassem em segundo plano permanente. Foi um total surrealismo momentâneo. Andamos um pouco (ela procurava um lugar aberto, uma lanchonete, ou algo do tipo. Enquanto eu, procurava-a, a observava, seu lindo e delicado rosto, aquele distinto sorriso, tão deslumbrante que me contagiava, e mesmo não querendo, me fazia sorrir.).

Ao vermos que não tinha nenhum lugar por ali perto aberto, aproximamo-nos de um banco de calçada, sentamos e conversamos. Eu como esperado, de um vocabulário tímido, falei pouco, ela, puxava mais assunto, em algumas vezes também permanecia calada. Nunca fui bem com diálogos, principalmente com alguém que tanto amo. Não pude falar o que queria, por vergonha, por medo, por não saber se estava indo rápido demais. Então, uma sensação incontrolável de toca-la, abraça-la do nada, de repente, simples assim, me contive, ou a timidez me conteve, mas não conseguir ficar sem olhar para ela, olhei e permaneci seguindo os detalhes que erguiam a densidade virtuosa de sua beleza. Até que ela disse: “Para de me olhar, sou tímida”. E por não onde olhar, olhei para a parede a minha frente (fingindo que olhava quando na verdade, estava-a observando). Então logo as horas se passaram, e logo o escurecer já era avistado. Então falou-me:

-Não está ficando tarde? Seus pais não vão brigar com você?

-A sim, verdade –não queria, mas precisa já voltar.

Nos levantamos, seguimos em direção ao terminal, no meio do caminho, ela percebeu que lhe faltava algo, eu por outro lado, vislumbrado com a ternura dela, não percebi. Era os fones de ouvido dela, tinha-os esquecido no banco. Voltamos, e já voltando, ela me disse: “Já devem ter pegado!” Não quis dar a certeza mas era bem provável que sim, e foi o que aconteceu. Os fones dela já não estavam mais lá. Meio triste e ainda sorridente, parecida não se importar muito com o ocorrido (sendo que os fones logo antes, não era dela).

Chegamos a entrada principal do terminal, antes das escadas subirmos, ele virou-se de frente comigo, aproximou seu rosto diante do meu, aproximou seus olhos diante dos meus, seus lábios, diante dos meus. Á Deus, tudo elevou-se a um sumiço em meu redor, colocando-me em um filme em câmera lenta. Confesso, eu esperava conhece-la melhor, e isso, ultrapassou o que eu esperava deste momento. Aquele beijo, tão sincero e repentino, tão leve e controlador, tão breve e constante. Nossa, por palavra nenhuma conseguirei descobrir e descrever o que me aconteceu naquele instante. Foi como nos filmes, exatamente como nos filmes, e por devera, até melhor, como geralmente dizem: “Foi Mágico”.

O tão sonhado momento, como todos os bons momentos, tão breve se acaba. Entramos para comprar o bilhete do metrô, pedimos umas informações de baldeação. Andamos até de mãos dadas, parecia tão surreal, descendo a escada rolante abraçados, indo já em direção as catracas de passagem para o embarque. Antes, senti um aperto no coração, por Deus, juro que não queria voltar (além de ser preciso) não queria. Como todas as despedidas, é tão comovente, tão doloroso, eu só queria mais algumas horas, minutos com ela. Até ela lembrou de tirar umas fotos, tiramos, e me sentindo tão triste, e ao mesmo tempo tão realizado. Fui-me embora, dei-me a mim mesmo as costas, pois parte de mim, lá ficou, outra parte ela levou, e o que restou-me? Saudade! Apenas, saudades, muitas!

Voltando para casa, só meu corpo voltava, enquanto minha mente permanecia naquele maravilhoso momento, um momento só nosso. Cheguei em casa, já desanimado e triste, sentindo-me também feliz polo acontecido.

Um banho frio, uma boa música pesada pra animar, um livro, nada me fazia parar de pensar nela, era tão, constante e alegre, não me lembro de sentir-me assim a muito, muito tempo.

Então decidi pegar meu pequeno caderno, onde desabafo minha decepções, minhas alegrias, minhas saudades e minhas tristezas. Já tinha em mãos, um velho lápis usado, dispensei o uso da borracha, pois iria colocar no papel minha vida, e na vida, não se apaga nada. Não tinha ideia por onde começar, e como nunca sei, fui logo ao início...

“Era um domingo...”