INFÂMIA.
Quaresma, periodo de quarenta dias prévios à Semana Santa quando cristãos se preparam para a Paixão, Morte e Resurreição de Jesus. Seria bom que todos se preparassem, gnósticos cristãos, agnósticos em dúvida por escola professada e lecionada, e ateus em dissenção permanente, ainda que na teoria das espécies Darwin reconhecesse em seu período final, na obra tão discutida e celebrada, um “Supremo Arquiteto”, e Kant, do alto de seu formidável esclarecimento sobre a discussão dos juízos e das ideias, pontificasse dizendo já vetusto, idoso, altamente amadurecido, que nada poderia demonstrar contra existência do criacionismo.
E a quaresma é época de conversão.Período de expulsar o cometimento vil e vergonhoso, a infâmia.
Recorda os quarenta dias que Jesus se isolou no deserto em reflexão preparando-se para iniciar sua pregação.
O termo inicial é a quarta-feira de cinzas, em que cinzas são impostas na testa ou na cabeça dos católicos para chamamento à penitência.
Cinzas de ramos de oliveira abençoados no Domingo de Ramos do ano anterior.
Essa convocação serve para qualquer um mesmo sem caráter ritualístico-religioso.Será possível que em momento em que se recorda Alguém, que como Homem padeceu horrores em uma Cruz, para redimir tudo que não presta, aqueles que escolheram o caminho do que não presta, alguns nas prisões ainda com arrogância, não visualizam o mal que praticam para todos, e que volta para seu próprio existir?
Dante Alighieri percorre guiado por Virgílio, o insigne poeta, o “Inferno”. Na sétima “bolgia” encontram Gerião, o monstro da fraude. É o sétimo círculo do inferno do maior poema de todos os tempos, “A Divina Commedia”.
Neste círculo estão os que cometem fraudes de notas infamantes.
“La faccia sua era faccia d`uom giusto”. A face era de um homem justo, nota Dante na fera Gerião. Mas, diga-se, o corpo era de uma serpente, e horrível.
Por quê? A descrição do florentino não podia desconhecer essa característica ostentada pelos que cometem fraude. Cortesia, bons modos, tranquilidade, enfim, esperteza. Não espere de desvios de conduta atitudes firmes com perda da tranquilidade. O amoral não gosta de enfrentamento, não busca testilha, não aceita contraditório que possa desfavorecê-lo. Sempre externa uma tranquilidade que impressione.
Não em vão se fala que o estelionatário tem hábitos educados e palavra fácil. É o crime conhecido como intelectual, usa outras armas. O desvio cometido por quem milita contra um enorme interesse coletivo, antes de se exculpar, nesses dias, sendo ou não um religioso, deveria tentar a reflexão que faz converter, já que o instituto do arrependimento eficaz, que exculpa, é impossível a esta altura de exercer.
Que a quaresma sirva para a infâmia que se comete contra a coletividade refletir sobre essa conduta.