GORDUCHOS: A CULPA É NOSSA!
Que a caça aos gorduchos passou dos limites, nem um magro intelectualmente honesto pode negar. Há tempos, nós, os mais fofos, passamos a ser uma espécie de praga universal, peste a ser erradicada. Somos responsáveis por toda e qualquer desgraça – do efeito estufa à alta do preço do tomate, do rombo da Previdência à precariedade do Sistema Único de Saúde, da situação calamitosa das calçadas à lentidão das filas. E o que é pior: não há uma mísera ONG que nos defenda.
Um amigo meu – gorducho – foi acusado de provocar acidentes de trânsito.
-- Eu? Não tenho carro. Nem dirigir eu sei. Só atravesso na faixa de pedestres, respeito todos os sinais – tentou se explicar. Em vão. Seu acusador devolveu de primeira:
-- Eu sei, eu sei. Mas, de que adianta tanta prudência? Um corpanzil desses, chupando sorvete e caminhando livre, pesado e solto pelas calçadas, desvia a atenção de quem dirige.
Há coisas piores, bem piores.
Dias atrás, um conhecido postou no FB uma mensagem em que justificava as razões pelas quais rompera a relação de amizade com um cliente. O homem, segundo ele, é dado a contar piadas bestas, do tipo:
-- Mulher gorda e pantufas a gente só “usa” em casa.
Que animal! O conhecido fez bem em romper com a anta, que é quase um obeso mórbido. Ou seja: nem os gordos se respeitam mais. Riem de si próprios. Aonde vamos parar?
Enquanto os magros riem dos gordos e os gordos riem deles próprios, a ganância mostra suas garras. Bem feito, bem feito. Desunidos, não chegaremos a lugar algum que preste. Leio nas folhas que uma companhia aérea do Pacífico Sul, não contente em pesar as malas, obriga o passageiro a subir na balança. Quanto maior o peso da bagagem e, principalmente, do viajante, mais cara a passagem. Não está longe o dia em que funcionários das companhias aéreas dirão aos mais pesados:
-- Por favor, se dirijam ao setor de cargas. Esta balança aqui, para pessoas normais, não dá conta da massa corporal de gente como vocês.
Que barbaridade.