São Francisco dos Portos
SÃO FRANCISCO DOS PORTOS
(crônica publicada no jornal "Diário Catarinense" de 26.03.14)
Às sete horas da manhã de segunda-feira já estavam a bordo da perua da Fundação Catarinense de Cultura com destino a São Francisco do Sul, bem no Norte de Santa Catarina seguindo a linha do mar. São Francisco - ilha que virou istmo, cidade que se orgulha de ser a terceira mais antiga do Brasil, centro histórico tombado pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, casario em estilo colonial português ladeando ruelas estreitas, berço embalado pelas marolas suaves da Baía de Babitonga, cenário pintado em ricos tons de verde por amplas reservas da Mata Atlântica, economia movida pelos portos existentes no interior da baía, defronte à cidade.
Cinco conselheiros estaduais de cultura em viagem dirigem-se ao IV Fórum Catarinense de Gestores Municipais de Cultura, realizado num hotel da Praia da Figueira nos dias 24 e 25 de março; outros chegam de Joinville, ali ao lado, e de Chapecó. A presidente do Conselho e diretora da Fundação, com dois funcionários, eram esperados na "van" e no fórum mas não aparecem. Uma lástima porque ela perdeu a calorosa recepção que lhe haviam preparado. Soube-se depois que ficou doente; ao que parece, para alívio e gáudio dos seus amigos e admiradores, sem maior gravidade.
O evento reuniu gente do Ministério da Cultura, da Federação Catarinense de Municípios, da sua congênere gaúcha e de administradores municipais de cultura provenientes de mais de 120 (dos 295) municípios catarinenses. Secretários, diretores e gerentes de Cultura, portanto, das esferas federal e municipal, além de um deputado estadual (embora nenhum vereador, sequer da cidade que sediou o encontro, aberto pelo prefeito municipal), que muito falaram e muito ouviram. E ninguém - ninguém! - do Governo do Estado, apesar de dois nomes terem sido confirmados como participantes de uma importante mesa redonda. Infelizmente, a diretora de Políticas Integradas do Lazer, da Secretaria estadual, não encontrou ocasião, até o início dos debates da mesa, para justificar sua ausência. Paciência, deixou de desfrutar um acolhimento ainda mais fervoroso do que o reservado à sua colega. Lazer, na nomenclatura peculiar usada pelo Executivo catarinense, quer significar as atividades profissionais empreendidas por agentes de turismo, de cultura e de esporte.
Do lado de fora da sala de convenções, calmo e sereno, o mar esparrama-se dali até o horizonte. Logo antes da Barra Norte da Baía de Babitonga, na margem oposta, desenham-se contra o céu os guindastes e equipamentos do moderno porto de Itapoá. Em direção ao Centro, surge o porto público de São Francisco do Sul com seus terminais privados. Mais para o interior da Babitonga, um projeto de 250 milhões de reais "prevê a instalação de uma ponte de quase 1,5 quilômetro sobre as águas da baía, com dois píeres para atracação de barcaças e navios cargueiros", segundo informa o "Estadão" de domingo. Teme-se que espécies ameaçadas de extinção sejam afetadas pela construção e operação do porto chamado de Mar Azul, como a toninha (um tipo de golfinho), o boto-cinza, a tartaruga-verde e o mero.
Afirma o pescador Adenir Correia de Mello que "o melhor lugar de pesca do camarão na baía é justamente onde eles querem colocar o porto".
Já dona Sônia Rocha prefere sentar-se com o marido num banco de praça virado para o mar a fim de apreciar o sol caindo por trás das montanhas e dourando as águas da baía: "Agora, imagine esse cenário maravilhoso com um monte de navio de carga passando no meio".
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==> Faleceu em Florianópolis aos 95 anos menos 2 meses de idade, no dia 25 de março de 2014, terça-feira, a senhora "Maria Celeste Carvalho Neves", mãe e artista plástica. Em nome da família, agradeço a solidariedade prestada por todos que souberam do desenlace, bem como por todos que, se soubessem, teriam igualmente se solidarizado conosco. <==
Amilcar Neves é escritor com oito livros de ficção publicados. A partir de 26 de agosto de 2013 integra o Conselho Estadual de Cultura, na vaga destinada à Academia Catarinense de Letras, onde ocupa a Cadeira nº 32.
(...) aquele 1965 em que éramos jovens, românticos e puros. Incontaminadamente puros. (...) Havia uma visão do coletivo, que hoje se perdeu, como também se extraviou (ou até soa ridícula) aquele ideia de "salvar a pátria", de interessar-se pelos problemas do País e do mundo porque eles habitavam nossa consciência.
Flávio Tavares, Memórias do Esquecimento