Não é pelos dez centavos
Feito o pagamento, o caixa me devolve o troco: uma nota de cinco, que eu trato de colocar no bolso, e uma moeda de dez centavos, que permanece na minha mão porque não sei que destino lhe dar. Bolas, de que serve uma moeda de dez centavos? Dirão os barões do capitalismo que de uma moeda de dez centavos pode se originar uma fortuna, mas eu não tenho essa pretensão. Eventualmente, eu até aproveito algumas dessas moedas para completar o pagamento e facilitar a vida dos caixas. Mas a verdade é que isso acontece muito menos vezes do que eu as recebo, de modo que elas vão se acumulando lá em casa enquanto eu não crio coragem de organizá-las. Ter uma moeda de dez centavos a mais não me altera muita coisa. Por outro lado, também sei que nenhum cobrador me deixaria entrar no ônibus se estivessem faltando esses dez centavos.
Reparo melhor na moeda desprezada. Ainda é daqueles antigas, prateadas, da primeira família das moedas de dez centavos de real. Seu ano de fabricação é precisamente 1994, ano de lançamento do Plano Real. Isso me leva a concluir que há vinte anos essa moeda está circulando pelo Brasil afora. De alguma forma ela continua sendo passada adiante, apesar do pouco valor e do quase desaparecimento do hábito de se pagar coisas com moedas. Que o comércio esteja distribuindo é natural, o que me espanta é que a moeda esteja voltando para ele. Imagino que muita gente deva reunir um bom punhado dessas moedas para depois trocar por, hã, dinheiro de verdade. E lamento a impossibilidade de traçar os caminhos por onde esta moeda andou, as cidades, os supermercados, os restaurantes, os botecos, as farmácias em que foi distribuída como troco, talvez para pessoas que, como eu, não enxergavam grande vantagem em recebê-la.
Mas então eu me lembro do impacto que duas dessas moedinhas foram capazes de causar no país inteiro ano passado, quando acrescidas ao valor de uma passagem. E, por via das dúvidas, trato de colocá-la no bolso também.