TAMUATÁ

Série: Crônicas da Natureza

TAMUATÁ

Ghiaroni Rios

Ou tamboatá, um peixinho (Hoplosternum littorale) sem vergonha, pequeno, com seus 15 a 20 centímetros, muito comum na bacia amazônica.

Possui duas séries de placas ósseas, cor escura, tem até alguma semelhança com o popular cascudo. Más há época, em falta de outros peixes que é ele quem salva a pátria.

Ele não vem, não pega em anzol. Sua captura mais comum é com o timbó. Proibido é claro, mas a fome não será mais proibida cá onde não há uma lanchonete em cada esquina?

Por adaptações anatômicas e fisiológicas tolera baixas concentrações de oxigênio, aglomerando-se em pequenos poços e lagoinhas formadas nos igapós quando a maré vaza no Rio Xingu.

A pescaria estava animada. O timbó macerado e chacoalhado n`água retira ainda mais oxigênio e os indefesos tamuatás sobem à tona à procura do ar vital, quando então são pegos até mesmo com a mão. São pegos em grandes quantidades de encher sacos e latas.

Duro é aguentar o cheiro forte do timbó misturado à água barrenta somado a boas doses da ruim pinga 51, além das violentas descargas do peixe elétrico, o Poraquê, também muito comum nesses ambientes.

Mas será este o alimento de muitas famílias xinguaras na semana toda, pois nessa época do ano é esse peixe que é comum, pródigo. Tambaqui, Pirarucú, Tucunaré e outros peixes nobres não se pesca nessa temporada. Como dizem: o passadiço (a comida) tá ralado seu mano.

Bobagem insistir tentando "mariscar" outros peixes. O caboclo que tem no rio sua principal fonte de alimentos sabe o que e quando pescar. É lei de sobrevivência.

Na hora de saborear o peixinho, a pimenta de cheiro com tucupi e a farinha puba complementarão o que acaba virando um banquete pela abundância. O tempero? Bom, o tempero é a fome!

Nairobi com medo dos poraquês já não entrava na água. Começava a ficar preocupado pois haviam apanhado muito peixe e grandes quantidades de tamuatás arriscavam morrer sufocados, sem ar.

Aleluia, recursos da natureza. A maré voltou a subir renovando a água e salvando enormes cardumes do peixinho, agora abençoado alimento e fartura.

ghiaroni rios
Enviado por ghiaroni rios em 27/03/2014
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