Dada
Muitos anos se passaram. Trinta, quarenta, até um pouco mais, e quando sonho com a minha infância, as saudades se afloram cada vez mais vivas e eu me lembro de Dada.
Dada, Margarida, nome de flor e jeito de flor. Loura, pele alva e linda, sempre sorrindo e cantando. Dada parecia um anjo.
Com muitas prendas domésticas, além de babá do meu irmãozinho, Dada era uma grande cosinheira,também cortava e costurava vestidos
com muita perfeição. A tardinha ela aprontava o pequeno Flávio, para o passeio na pracinha de areia, com sua beleza, seu caramanchão, jardim. plantas, bancos, igual a todas do interior de Minas, com direito a babás, bichos e muitas crianças.
Nesses passeios diários Dadá arranjou um namorado. Rapaz bonito, bem empregado, casa própria e apaixonado por nossa Dada.
O pequeno Flávio, adorava o moço e dele ganhava muitos mimos. Pirulitos, carrinhos pipoca conversa e carinho.
Numa dessas tardes o rapaz perguntou a meu irmãozinho.
- Até aonde você gosta da Dada?
O pequeno maroto, abaixou a bermuda de veludo e com o pintinho mole na mão respondeu:
- Até aqui, nete colação.
O rapaz não conteve o riso. Dada ficou vermelha e sem jeito.
Até hoje, quando me lembro desse fato, não consigo atinar quem ensinou ao meu irmão tal travessura.
E nesse dia eu ví Dada chorar.