Nós e nossa saúde (do corpo e do planeta)
Dias atrás eu estava folheando umas revistas antigas na biblioteca da faculdade onde dou aula, e uma chamada de capa me chamou a atenção. Dizia: Câncer: Viramos o jogo. Peguei a revista e fui direto à página 44, onde li, entre ilustrações: “Câncer a chave da vida e da morte”, por Carol Castro. Era a revista Superinteressante, edição número 318, de maio de 2013. Essa revista, por sinal, a conheço desde a edição numero zero (um facímile do que seria a publicação, mas de uns dois anos para cá, a tenha lido bem menos, e percebo que tenho perdido muito). Li o artigo e me ocorreu uma analogia perversa e certeira: nós podemos ser células cancerosas no nosso ambiente.
Sabemos que todo ecossistema é extremamente frágil e se quebra ao impacto da menor interferência negativa. Temos visto a olhos largos, que somos responsáveis por toda sorte de efeitos negativos de nossas ações no planeta.
São desequilíbrios climáticos, invasões de pragas nas lavouras, aumento de chuva ou redução desta, contrastando com a história daquele micro ambiente.
Ou seja, estamos constantemente modificando o DNA de nosso planeta e arcando com as consequências disso. Tumores surgem aqui e ali. Num momento por conta de um desmatamento ciliar, noutro uma pesca predatória, acolá um cargueiro deixa escapar algumas toneladas de óleo no mar, uma floresta que é dizimada, causando assoreamento de rios e secagem de lagos, sem contar com as latinhas de suco, refrigerante e cerveja que voam pelas janelas dos carros, pelo trânsito afora...
É a doença se fazendo, consequência da desordem dessas células, que adoeceram, por conta dos ataques. Ou seja, estamos matando nosso planeta. E morrendo juntos.
É claro que existem ações de estudos, pesquisas, oferta de alternativas que permitem a saúde das células (são os pesquisadores citados no artigo), mas são insignificantemente menores que a força tarefa das agressões. Ou seja, estamos apanhando feio das invasões e agressões ao nosso sistema - às nossas células saudáveis.
Percebemos por fim, que a exemplo de nosso corpo, nosso ambiente é perfeito, harmônico e equilibrado, e ao mesmo tempo extremamente frágil e vulnerável e sofre severamente com a agressão. E a resposta vem muito rapidamente, em forma das mais variadas manifestações de reações da natureza (as mais variadas formas de câncer).
Sabemos que nosso corpo, uma vez livre dos ataques dos invasores é reequilibrado, ganha qualidade, se reorganiza, revitaliza.
Com a terra não é diferente. Basta isolar uma área degradada, e em poucos anos ela se recupera. Ou seja, os seus anticorpos voltam a trabalhar e proteger a sua integridade, ela se recompõe e sua trajetória continua. (Salvo os casos de invasões extremas, que por exemplo se desertificam. São as equivalências às amputações no corpo humano. Apodrecem).
É claro que existem batalhões de médicos, enfermeiros, psicólogos, para cuidar da saúde física e outros tantos preocupados com a saúde da natureza.
Mas se o paciente não desejar se curar, não desejar fazer a sua parte, provavelmente será uma batalha perdida. E sucumbimos todos.
A terra tem uma vantagem sobre nós: Se morrermos, terá acabado tudo, irreversivelmente. Se isso acontecer, provavelmente ela se revitalizará, ganhará força, e em algumas décadas ou mesmo séculos (uns minutinhos na idade do planeta), e ressurgirá exuberante e cheia de vida, provando que não precisa de nós para viver.
Nós sim, dependemos da terra. Logo, é importante que sejamos mais inteligentes, mais zelosos, mais vigilantes com o que nos assegura a vida e a perpetuidade(?) da nossa espécie.
Podemos preservá-la e a ter a garantia de nossa sobrevivência. Ou destruí-la. E sucumbir juntos. Cabe a nós a reflexão e a tomada de decisão: O que somos? Um tumor ou a vida saudável? Temos em mãos a nossa escolha.