Vendedor de poemas

O vendedor de poemas aborda quem espera o ônibus. O vendedor de poemas escolhe quem mais tem cara de apaixonado. O vendedor de poemas parece mendigo que chega de repente e pede dinheiro para comprar uma marmita. O vendedor de poemas tenta puxar conversa como quem não quer nada: pergunta se está tudo bem com a pessoa. Só depois é que o vendedor de poemas se apresenta: “Eu sou um vendedor de poemas”. Como outras pessoas por ali vendem vales, DVDs, chips para celular, brinquedos, bijuterias, goiabas ou adesivos para unha, o vendedor de poemas vende poemas.

Quem é que compra os poemas do vendedor de poemas? Quem tem uma pessoa amada e quer dizer algumas coisas bonitas para ela mas não é muito bom com as palavras. Porque os poemas do vendedor de poemas são todos de amor. Mas não são todos iguais: o vendedor de poemas fez vários grupos de poemas e os separou em envelopinhos. Quem compra poemas do vendedor de poemas pode escolher o grupo de poemas que quer comprar. “Esse aqui o pessoal costuma gostar mais” - diz o vendedor de poemas. E o vendedor de poemas deixa que abram os envelopes, que tirem os poemas, que leiam os poemas, que cheirem os poemas, que apalpem os poemas, que escolham aqueles que mais estiverem maduros.

O comprador de poemas pergunta ao vendedor de poemas quanto custa um envelope de poemas. O vendedor de poemas responde ao comprador de poemas que o envelope de poemas custa dois reais. Por dois reais o comprador de poemas terá um envelope com quatro poemas para entregar a alguém que ame e goste de poemas. E como são os poemas do vendedor de poemas? O vendedor de poemas, quando escreve poemas, não é nenhum Carlos Drummond de Andrade. O vendedor de poemas escreve “tristeza” só porque precisa de uma rima para “beleza”. Mas que importância pode ter a qualidade dos poemas? O vendedor de poemas vende poemas e isso basta. É por isso que o comprador de poemas decide comprar os poemas – mesmo sem ter alguém que ame e goste de poemas.