PROPAGANDA
Hoje, andando na rua, minha atenção foi atraída por um outdoor com a foto de três moças sorridentes, ostentando dentições perfeitas, que apresentavam uma determinada marca de papel, com os dizeres: “papel ‘X’, o papel que imprime alegria”.
Ora, já não basta que o papel seja de ótima qualidade e imprima com perfeição, pois para isso existem dezenas de marcas de papel. Ele tem que ser diferenciado, apresentar alguma característica especial – verdadeira ou não, isso não importa – para atrair os consumidores. Aí está o papel dos publicitários: criar frases de efeito, que “grudem” na mente das pessoas e as influenciem a escolher determinada marca na hora da compra.
Até aí, tudo bem. São as armas utilizadas na guerra da economia de mercado. O problema maior é que essa diferenciação ocorre também com as pessoas. Já não basta ser humano: deve-se sobressair, chamar a atenção, de alguma forma, para ser aceito e bem sucedido. Deve-se saber “vender” sua imagem, não importa qual argumento se vai utilizar. Aí, o Ser Humano nivela-se a qualquer outro produto da prateleira, da vitrine ou do outdoor. É a lei do mercado e da sociedade de consumo!
De outra vez o que me desencadeou a fúria anti-propagandística foi um anúncio no rádio, que dizia mais ou menos assim: Que tal comprar o seu remédio de uso contínuo e levar outro totalmente de graça? Meu Deus! Parece aquela piada do homem que achou na rua uma porção de duplicatas a vencer e pagou todas elas adiantado só para gozar os descontos!
Mas é sério, para não dizer um absurdo: comprar remédios antecipadamente, já esperando ficar doente – como ter certeza de continuar vivo, para poder utilizá-los um dia? Estoque de remédios? Onde estamos? Num país de ficção? Antes, remédio era coisa séria, receitado pelo médico e vendido em farmácias – e o farmacêutico aviava a receita. Agora, vendem-se remédios em drogarias (o nome já diz: lugar onde se vendem drogas), onde nem há farmacêuticos, em mercados, em postos de gasolina, e até em farmácias, que só vendem, não aviam mais. E manda-se tomar remédios...
Todo mundo receita remédio: atores, jogadores de futebol, nadadores, técnicos de esportes. Todo mundo é médico nesse país? E ninguém percebe? Na televisão vem a atriz e diz: gripe? Tome Taletal. Logo depois, vem o ator e manda: gripe? Toma Deixeagripe. Todos são ótimos para combater os sintomas da gripe, tiram a febre, a dor no corpo, a indisposição, a dor de cabeça e a coriza. Mas, se todos são ótimos, onde está a diferença? Mulher toma o que a atriz receitou e o homem toma o outro? Ou o contrário? Ou toma os dois pra garantir?
Sei lá. No final, todos advertem: “a persistirem os sintomas, o médico deverá ser consultado”. Ora, isso não deveria ser a primeira opção? Não é para isso que eles servem?
Eu quero entender, mas ninguém me explica!
Imagem do Google.