Festa no apê
Antes de sair de casa, eu ainda perguntei se podia levar Nikita (é o nome da minha cachorrinha). Porque eu sei que tem lugar que não aceita cachorro. Mas eles que disseram que sim, tudo bem, podia levar. Se eles tivessem dito “não, não leve cachorro nenhum”, eu teria deixado Nikita em casa. Mas eles concordaram, então eu levei mesmo, porque gosto de passear com ela. Jamais podia imaginar que seríamos mal recebidas.
Cheguei lá e a mulher nem me cumprimentou, foi logo avisando que era para manter a cachorra calada. Quase tive que amarrar o focinho da Nikita para ela não latir. Eu imagino que era para não incomodar os vizinhos. Eles haviam acabado de se mudar para aquele apartamento e não queriam confusão. Quando fui sentar, o dono da casa me perguntou se Nikita não fazia xixi em sofá. Eu disse que não, porque não fazia mesmo. Aí ele perguntou se eu tinha certeza. Lógico que eu tinha, mas ele ainda ficou insistindo: “Olha que faz...”. Era novo também, o sofá. O resultado é que fiquei com Nikita no colo a maior parte do tempo.
Na verdade, aquela era a festa de inauguração do apartamento. Ficamos todos na sala conversando, em tom normal. Mas eles deviam achar que a gente estava com um megafone, porque a toda hora diziam para não rir alto, não fazer barulho. E ainda avisaram todo mundo que não era para colocar o copo em cima dos móveis. Sendo que ali só tinha adultos, ninguém iria fazer isso. Eu me senti muito mal com isso.
E depois eu resolvi deixar Nikita andar um pouco, porque ela já estava agoniada no meu colo. E falei pra todos ficarem de olho para que ela não fosse fazer xixi no tapete. Aí a dona de casa se virou pra mim e disse: “VOCÊ fica de olho”. Juro, foi por milagre que eu não me levantei e fui embora naquela hora. Porque eu achei que Nikita iria poder ficar à vontade na casa deles. Andando, cheirando, latindo, fazendo coisa que cachorro faz. Eu achei que as pessoas também iriam ficar à vontade – eu achei que as festas eram para isso.