Naquela mesa de bar

Aquele homem sentado à mesa de um bar, ora envolto em seus pensamentos, observando as pessoas que passam, ora distraído acompanhando com o olhar os carros que transitam, é um homem de cabelos e barba branca e rosto avermelhado! É mais um homem com um copo à mão...

Quando paro o carro no sinal, forçosamente, volto-me para olhá-lo. Ele, olhando na minha direção, penso eu, que, intuitivamente percebe que está sendo observado. Observo-o segurando mecanicamente o copo tipo americano com uma bebida destilada, levando o copo aos lábios qual num ritual, depositando-o à mesa de forma lenta e contemplativa...

No curto espaço de tempo que fico contemplando o seu comportamento à mesa daquele bar, fico a relembrar momentos idênticos de um passado não muito distante, que vivi e vivenciei, quando era amante da garrafa e do aconchego do copo. Quanta semelhança com aquele homem que ora contemplo!

Bebia por prazer e necessidade, não para afogar as mágoas, ou curtir uma dor de cotovelo como costumam muitos. Mas, parecia que o sangue clamava, levando-me ao copo com sofreguidão como se fosse a falta do ar que respiro.

Ninguém sabe o que se passa e povoam os pensamentos de quem fita o olhar no vazio, quando cruza os braços ao peito, ou descansa o copo à mesa, logo após o deleite do gole. Só aquele homem talvez saiba, naquele instante. Somente eu sabia, e sei agora com mais lucidez, daqueles momentos de angústia e ausência de ideal pelos quais passei.

Não guardo nem tenho saudades dos prazeres que sentia, daqueles falsos e efêmeros instantes de liberdade, quando o pensamento convergia única e exclusivamente para a bebida. Desse passado, só restam lembranças, nada mais...

Aquele recanto de bar, não deixa de ser uma extensão da casa do homem que ora bebe, pois é sua parada obrigatória na volta do trabalho, quando seu pensamento e vontade o conduzem a passos largos para àquele ambiente de saciedade e prazeres.

Naquele momento, a sua vida se resume ao quadrado de uma mesa e à abstração de seus pensamentos. Naquela mesa, aquele homem, beija e sorve aos goles os prazeres da bebida momentaneamente, abraçando o vazio da tristeza e da angústia. Assim como outrora eu também fazia...

Por Washington Luiz do Nascimento

Washingtonluiz
Enviado por Washingtonluiz em 23/03/2014
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