Chuva bem-vinda!


     Lentamente despertei na suave manhã chuvosa. Agucei o ouvido tentando ouvir os pássaros que em outros dias ensaiavam melodias empoleirados nos galhos da amendoeira. Adoro ouvir a chuva, embora pareça triste. Em muitas manhãs as rolinhas, os saís-azuis, e os pica-paus do campo vieram trazendo alegria com seus cantos lindos em meio à natureza dessa ilha, pulando de galho em galho, e nos fios dos postes de luz. Em amanheceres brilhosos eles vieram me saudar em algazarras febris.
     Quarta-feira de cinzas. No dia anterior, limpei as ervas daninhas do meu jardim, as danadinhas estão me dando trabalho, de tal forma que precisei replantar a grama que secou. O verão foi impiedoso, sol escaldante, temperaturas acima de 40 graus, tórridas tardes onde nem a água do mar trouxe alívio. E aconteceu que tudo secou: grama, os pés de pitanga, as hortaliças, as glicínias e as roseiras. Foi demais!
Então, a chuva veio abençoada. Sua melodia ecoava pelo telhado, enchia a casa de ecos saudosos trazendo lembranças de tempos bons. Tomei café.
     Recostei-me no sofá. A melodia me despertou pra grandeza e beleza do nosso universo, a água puríssima caindo das cinzentas nuvens. Pela janela, eis que algo me chamou a atenção: os caramujos tóxicos em marcha apareceram no jardim. Que coisa medonha! Já tinham me incomodado no verão anterior. Eles devoraram canteiros de espinafre, couve e cebolinha, os pés de abóbora que floresciam e os brotos novinhos de plantas e flores. Só sobrou um pé de alecrim.
Segundo informações do Portal Terra, esses caramujos ocupam terrenos baldios e áreas de cultivo de hortaliças, devastando toda a plantação, justamente as folhas com nutrientes. Essa espécie foi trazida clandestinamente da África como se fossem escargots, um molusco de alto valor comercial, há mais de 20 anos. Eles se reproduzem demasiado e é difícil exterminá-los. Virou um caso de saúde pública. Foi preciso muita paciência pra refazer meu jardim.

     Esse incidente me trouxe indagações: como sobreviveremos no futuro? Se as hortaliças, indispensáveis a boa alimentação e que já são insuficientes no planeta Terra, engordam os caramujos tóxicos ao invés de permitir que nos alimentemos, como vai ser o amanhã? Há alguns verões, nessa ilha e no litoral de Santa Catarina, esses bichos dizimam plantações de hortaliças, mutirões já foram feitos para acabar com essa praga, sem sucesso.
Peguei a sombrinha, calcei sapatos e luvas, e com uma pá recolhi os bichos em sacos plásticos, coloquei sal e os incinerei,... única maneira de acabar com os moluscos venenosos. Fiquei realmente incomodada. Deu-me um desgosto.

     Nas feiras e mercados os produtos escasseiam, e o preço se torna inacessível para muitos. Outros atrativos aparecem para o consumidor desavisado: enlatados um tanto estranhos, aquelas coisas comestíveis que pouco nutrem nosso corpito necessitado. Resta-nos a consciência de que os bons produtos naturais estão rareando, e tomar alguma medida que fortaleça nosso cotidiano em termos alimentares. O equilíbrio sustentável urge! Cuidemos de nossa Terra, nosso planeta, nossa casa!

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                                             ​IZABELLA PAVESI
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imagem: internet 


http://noticias.terra.com.br/ciencia/animais/caramujos-africanos-gigantes-infestam-bairros-de-florianopolis.