Tempus currit...
Relógios antigos nos lembram, entre seus ponteiros, a advertência do romano Virgílio: “tempus inexorabile currit” (o tempo foge irrecuperável) ou "tempus fugit". Quando diretor do Centro da Educação da UFPB, escrevi essa primeira frase na sala de demoradas reuniões; assim jocosamente a traduziram: “Corra enquanto é tempo”. A tradução correta, desde cerca 30 a.C., mesmo vinda de um poeta, adverte o tempo passar rapidamente como nuvens que, vistas daqui da terra, deslizando suaves no céu, correm em velocidade, lá em cima, carregadas pelo vento e pela sua leveza... Mas, esse aforismo utilitarista, distanciando-se da poesia, admoesta-nos não desperdiçar o tempo, impondo-nos a correria quotidiana da cidade, expressa na repetida frase: “não tenho tempo”, “não tive tempo”, enquanto para se aproveitar bem o tempo ou não fazer as coisas duas vezes, precisa-se do tempo suficiente.
Submissos a essa hodierna tacocracia das horas e fiéis à concepção capitalista do “time is money” (tempo é dinheiro), louvamos a produção, o lucro e o dinheiro; negamos tempo ao sentimento ou às coisas mais humanas. Erich From, em “A arte de amar”, alerta-nos que “o homem moderno pensa perder algo, tempo, quando não faz as coisas depressa; entretanto, não sabe o que fazer com o tempo que ganha, a não ser matá-lo”. Por outro lado, às vezes, escutamos que “matar tempo” significa admirar o mar, as flores, a beleza dos campos, conversar com as crianças ou ler um bom livro... Um bom conselho do amigo Everaldo Junior foi reler os clássicos que li na juventude. Com certeza, naquele tempo, cada frase tinha outro sentido, cada imagem, outra visão. Seria perdularismo do tempo?
“A arte de amar”, do psicanalista e filósofo alemão acima citado, leva-nos a concluir que amar com pressa para se ganhar tempo torna banais os atos eróticos e sexuais tão necessários ao prazer e ao amor; banalização que desvaloriza e subtrai prazeres da vida, fazendo deles apenas atos instintivos, rápidos e passageiros, como o daquele que almoça na rua, andando às pressas, carregando uma valise preta, comendo “fast food”, engolindo um sanduíche para não perder tempo. Quando se “mata o tempo” para ser feliz, vive-se bem. Basta de ditadura do tempo; contra tal azáfama coletiva ganhar alguma liberdade significa uma conquista em vida... Enfim, em O Tempo Redescoberto, diz Proust: “Um minuto livre da ordem do tempo recriou em nós, para o podermos sentir, o homem livre da ordem do tempo”.
Relógios antigos nos lembram, entre seus ponteiros, a advertência do romano Virgílio: “tempus inexorabile currit” (o tempo foge irrecuperável) ou "tempus fugit". Quando diretor do Centro da Educação da UFPB, escrevi essa primeira frase na sala de demoradas reuniões; assim jocosamente a traduziram: “Corra enquanto é tempo”. A tradução correta, desde cerca 30 a.C., mesmo vinda de um poeta, adverte o tempo passar rapidamente como nuvens que, vistas daqui da terra, deslizando suaves no céu, correm em velocidade, lá em cima, carregadas pelo vento e pela sua leveza... Mas, esse aforismo utilitarista, distanciando-se da poesia, admoesta-nos não desperdiçar o tempo, impondo-nos a correria quotidiana da cidade, expressa na repetida frase: “não tenho tempo”, “não tive tempo”, enquanto para se aproveitar bem o tempo ou não fazer as coisas duas vezes, precisa-se do tempo suficiente.
Submissos a essa hodierna tacocracia das horas e fiéis à concepção capitalista do “time is money” (tempo é dinheiro), louvamos a produção, o lucro e o dinheiro; negamos tempo ao sentimento ou às coisas mais humanas. Erich From, em “A arte de amar”, alerta-nos que “o homem moderno pensa perder algo, tempo, quando não faz as coisas depressa; entretanto, não sabe o que fazer com o tempo que ganha, a não ser matá-lo”. Por outro lado, às vezes, escutamos que “matar tempo” significa admirar o mar, as flores, a beleza dos campos, conversar com as crianças ou ler um bom livro... Um bom conselho do amigo Everaldo Junior foi reler os clássicos que li na juventude. Com certeza, naquele tempo, cada frase tinha outro sentido, cada imagem, outra visão. Seria perdularismo do tempo?
“A arte de amar”, do psicanalista e filósofo alemão acima citado, leva-nos a concluir que amar com pressa para se ganhar tempo torna banais os atos eróticos e sexuais tão necessários ao prazer e ao amor; banalização que desvaloriza e subtrai prazeres da vida, fazendo deles apenas atos instintivos, rápidos e passageiros, como o daquele que almoça na rua, andando às pressas, carregando uma valise preta, comendo “fast food”, engolindo um sanduíche para não perder tempo. Quando se “mata o tempo” para ser feliz, vive-se bem. Basta de ditadura do tempo; contra tal azáfama coletiva ganhar alguma liberdade significa uma conquista em vida... Enfim, em O Tempo Redescoberto, diz Proust: “Um minuto livre da ordem do tempo recriou em nós, para o podermos sentir, o homem livre da ordem do tempo”.