IGUAIS

Algumas situações da vida são no mínimo curiosas, e quase me passaria despercebida a seguinte história que vou narrar. Depois de receber uma ligação da escola do meu filho, informando que ele não estava bem, fui buscá-lo e ao perceber que não tratava-se de um simples mal estar, fomos direto para o hospital. Nessas horas lembramos como é bom ter um plano de saúde. Mas lembramos ainda mais de como ter saúde é ainda melhor. Nada grave, apenas uma possível virose constatada pelo pediatra da emergência. Mas ele teria de ficar por algumas horas com soro e medicamento intravenoso, e lá permaneci ao lado dele. Como qualquer criança, estava apreensivo, um pouco nervoso, mas procurei lhe passar segurança e tranquilidade naquele momento. Fizemos uma oração juntos e ele adormeceu. Passado algum tempo, entrou no quarto uma outra criança acompanhada da mãe, com o mesmo quadro clínico, em processo de desidratação. A mãe, uma moça de apenas 22 anos, começou a contar sua história, relatando como estava sendo sua vida desde o nascimento do filho, quando então tinha somente 14 anos. Uma moça de origem humilde, vinda de uma família numerosa, e que não teve oportunidade de se dedicar antes aos estudos. Me perguntou qual era minha profissão. Geralmente evito dizer que sou policial, disse apenas que sou bacharel em Direito e atualmente funcionária pública. Ela então me disse que talvez eu poderia lhe tirar algumas dúvidas, pois no dia seguinte estava marcada no Fórum uma audiência de um de seus irmãos, que estava preso por ter praticado um homicídio. Por ironia do destino, até poucos meses atrás eu estava lotada no Grupo de Investigação de Homicídios da cidade, mas para não haver constrangimentos, preferi não dizer. Ela me contou a história do irmão, relatando inclusive o nome dele e da vítima. Lembrei do fato e de alguns detalhes, e me vi refletindo. Nós duas, mães de crianças da mesma idade, embora com diferentes experiências de vida, estávamos ali passando pela mesma situação. Na hora da dor, da doença, todos somos iguais. O filho do policial ou do bandido. O filho do médico ou do paciente. Isso não interessa para a dor ou para a doença. Por isso de nada adianta nos julgarmos melhores ou piores. Orgulho ou soberba é perda de tempo, perda de vida. Que possamos enxergar melhor nessas situações uma forma de ver como Deus age em nossas vidas, só não aprenderemos se fecharmos os olhos, tentando ignorar que somos extremamente vulneráveis - e iguais.