PÂNICO.

Em menos de uma semana duas pessoas amigas perderam familiares assassinados. De repente a violência salta da tela da TV e das páginas dos jornais para a vida real.O mundo se estreita e a dor de uma amiga chega a mim.

A solidariedade não vem só e traz o medo em seu rastro. É possível perceber a confusão de sentimentos e o caminho escolhido pelo cérebro é não permitir viver a emoção. Tento dar conforto a quem sofre ao mesmo tempo em que me distancio da dor.

Não o faço por falta de compaixão; faço como medida de auto proteção. Sabemos o tamanho do sofrimento que podemos suportar e o recalque de sentimentos é uma prática bem conhecida por todos nós para podermos continuar. Mas até quando continuaremos incólumes?

A luta contra essa violência desenfreada é da competência do Estado e quando este se omite, o resultado é o que estamos vendo, com a agravante de não sabermos mais distinguir quem é bandido e quem é mocinho nesse bang-bang cotidiano. Não tenho receitas

prontas e não me compete dar solução.

Sei que a desigualdade social tem que ser combatida; que os atos de violência devem ser punidos e que a presença de bons policiais nas ruas é imprescindível.Como fazer fica para as autoridades competentes. O que posso fazer é adotar alguma medidas de segurança.

Também posso rezar pedindo proteção divina para mim e para os que amo, o que faço sempre.

Abro um parêntese para dizer do susto que tive ao acordar com um estranho portando uma arma, dentro do meu quarto, numa casa onde moravam quatro mulheres: minha mãe, minha irmã, minha filha com 13 anos, na época, e eu. Foi só um susto, saímos ilesas, graças a Deus! E não é apenas uma expressão vazia: dou graças a Ele mesmo!

Digo que saí sem traumas e assim me pareceu de fato, porém, desenvolvi poucos anos depois alguns sintomas de Síndrome de Pânico. Quem já passou pela tal síndrome sabe que por mais que se tente ser racional e se controlar, a impressão é de morte iminente mesmo! Alternamos entre as "sensações " de alheamento, desmaios e falta de ar.

Desenvolvemos sintomas físicos também; taquicardias, suores, dores de cabeça e outros mais que nem quero lembrar. Há quem esconda esse mal, com vergonha (aconselho que procurem o médico, pois tem cura sim), mas os consultórios psiquiátricos estão repletos e conheço algumas pessoas que chegaram ao cúmulo de não saírem de casa, ou do próprio quarto.

Não sou especialista, não tenho condições de afirmar, mas arrisco dizer que o aumento de casos de Pânico está relacionado à violência vigente e àquelas emoções que reprimimos por não sabermos lidar com elas.

Há de ser feita alguma coisa com urgência e se não temos condições de evitar as balas perdidas (ou achadas, como querem alguns) e outros males urbanos dessa natureza, que cuidemos de nós e dos nossos com amor.

Que vivenciemos os laços que nos reforçam o espírito. Que ao invés de recalcarmos nossas inseguranças com armaduras que nos afastam do outro, possamos ser nós mesmos diante do amigo, do irmão, do amante. Cuidemos, pois, não só da segurança física, mas também do conforto da alma.

E, por favor, sejamos responsáveis ao escolhermos quem cuidará da segurança pública.

Evelyne Furtado
Enviado por Evelyne Furtado em 03/05/2007
Reeditado em 18/07/2007
Código do texto: T473749
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