FANTASMA

Como a maioria dos adolescentes, eu tive sérios problemas para lidar com as decepções e frustrações amorosas... invariavelmente sempre me resignei com esse sentimento de perda, de ausência e mesmo de fracasso.

As experiências fazem parte de nosso processo de amadurecimento; e com o passar do tempo, foi possível concluir a transição do jovem com a baixa estima em alta para o adulto com a capacidade de perceber que o final de um relacionamento não é sinônimo de perda da oportunidade de ser feliz.

Todavia, mesmo tendo passado quase metade da minha vida, ainda convivo com o que chamo de “fantasma particular”... não é um espectro ou uma presença sobrenatural, mas uma lembrança que eventualmente me assola...

Sem ser contraditório, mesmo com a perda de uma pessoa muito especial, eu consegui ser feliz... mas a minha natureza é humana, e fico divagando sobre como minha vida teria sido diferente.

Ela simplesmente foi a única mulher por quem eu me apaixonei...

Não tenho como asseverar que esse relacionamento seria pleno e feliz, pois sinceramente acredito que não; porém, o sentimento que me assombra está correlacionado ao fato de que nem tentei...

No início, eu era casado; alguns anos depois, eu me separei, mas ela decidiu investir em um relacionamento... quase enlouqueci com a solidão, e comecei o meu segundo “casamento”, e ela ficou sozinha.

Quando nos encontramos, não tive a coragem de jogar tudo para cima... e ainda acabei sendo idiota, dizendo com todas as palavras que nosso tempo já tinha passado... confesso que senti o doce sabor de vingança, e queria que ela sofresse da mesma forma que eu.

Essas indas e vindas se desenrolaram... ela continuava sendo onipresente em minha vida, pois além de covarde, eu desenvolvi uma dependência sentimental por ela.

Há seis anos, sentamos para conversar e ela disse que iria casar... mas com nuances de crueldade do destino, descobri que seu marido era como se fosse um clone... fiquei desnorteado, perdido...

Hoje, estou sozinho novamente, e tenho consciência de que a felicidade não é um estado de plenitude; mas para quem já viveu em uma relação que foi a sucursal do inferno em plano terrestre, e um segundo que simplesmente não deu certo, viver o passado é um balsamo para os momentos de dor.

Confesso que sinto falta desse sentimento de paixão que senti por ela... nunca me senti tão vivo, mas confesso que jamais quero passar por um novo processo de desvinculação, de abstração de sentimentos... gostei muito daquela mulher, e tudo que quero, até hoje, é que ela seja feliz.

Se uma história tem de ter uma moral, a minha é essa: não escolhemos a pessoa por quem nos apaixonamos, e algumas vezes nem temos a oportunidade de conduzir o relacionamento. Porém, se for possível escolher os rumos da relação, sempre lembre que nada é mais frustrante do que o sentimento de omissão que sempre vai assolar a minha vida.

SEBASTIÃO SEIJI
Enviado por SEBASTIÃO SEIJI em 21/03/2014
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