Romance Real
Chuva. Frio. Céu nublado. assim estava o clima na imensa cidade aonde fui parar. Sou jovem, na flor da idade. Tenho meus 16 anos de idade e estou num período muito longo pra ser chamado de férias. Não ouso identificar-me porque o sistema não permite. Não falo essas coisas por acaso, pois se por acaso o que eu escrevesse fosse mais uma história de adolescente, que mal tinha em eu dizer quem sou? Enfim... venho de longe de uma terra seca onde de tudo falta um pouco. Não tem comida à vontade e muito menos água. O povo de maneira geral, sofre com essas faltas, pois não é fácil viver em meio a miséria. Agradeço por não ser uma dessas pessoas que sente tanto os impactos porque tenho vida relativamente fácil. Filha de mãe solteira vim à cidade à passeio. Meu Deus! Soubesse eu o que enfrentara...
Sempre extravagante e extrovertida tenho facilidade em fazer amizades. Quando num dia qualquer, enquanto caminho num dos parques da cidade o fito: moreno de estatura mediana, ombros largos, cabelos negros e curtos e olhos refletindo mel, vejo um jovem - também caminhando - trajando jeans, tênis esportivo, e camisa preta com mangas compridas. Nossa! Cena até romântica se o que eu narrasse fosse essas histórias perfeitas e praticamente impossíveis dos contos de fada. Mas na história que se segue não há impossíveis. É tudo real. Tudo verídico. Não é dessas histórias que olhares se cruzam, se apaixonam e vivem uma vida inteira. Vai muito mais além disso. Repito: é real.
O tempo vai se passando e penso rápido no que vou dizer para começar ali uma “amizade” quando antes de qualquer palavra sair da minha boca ele se aproxima:
- Boa tarde, delícia! – e me olha dos pés a cabeça pressionando os lábios (e que lábios!) inferiores
- não é boa, meu amor. Se toda tarde encontrasse alguém como vc meus dias seriam perfeitos. – exclamei olhando-o lentamente da cabeça aos pés.
A conversa seguiu normalmente como qualquer pessoa faria. Nomes e Números de telefones foram trocados, endereços ditos e destinos traçados. Pronto. Todos os grãos da ampulheta foram contados e todas lágrimas que com eles vinham armazenadas na cisterna da garganta... nos dias frios que o clima nos proporcionava seguimos nossas vidas, sempre um se lembrando do outro, até que entre tantas conversas virtuais marcamos nosso primeiro encontro. Não. Não foi nada romântico (já lhe disse que essa história não é) numa das baladas – clandestinas – da vida, o encontro me esperando com seus trajes sedutores colados ao corpo, ressaltando seu peitoral definido e seus músculos presos ao tecido da camisa, assim como eu, torcendo para serem expostos. A festa rolou, comemos, bebemos, dançamos, conhecemos um pouco mais do corpo do outro e aproveitamos o que a noite nos ofereceu. Nossas mãos, no calor escuro da noite apalparam o quanto e o que puderam até aquilo ser pouco. Mas, um pouco contidos, decidimos voltar aos ditos lares e lá, segurar esses desejos sexuais que estão a flor da pele para um momento melhor. No dia seguinte o resultado de tanta bebida foi o fígado pedindo água, o corpo pedindo cama e eu pedindo memória. Eram poucas as lembranças que tinha da noite anterior.
Os telefonemas continuaram, os encontros mais frequentes até que um dia, depois de um encontro em um bar, decidimos: vamos ao local onde só seremos um para o outro, corpo para corpo, e vamos explodir nossos prazeres. Extravasar nossos desejos que estão a flor da pele.
Decisão tomada, conta paga, táxi chamado e quarto aberto: estamos no motel mais próximos que nossos desejos encontrou. Passa das 20h30 e o dia, como sempre, está frio. A lua minguante mostra como serão meus momentos de alegria daqui por diante. Carícias, beijos, respirações intensas próximas aos ouvidos, quando sua camisa já não mais cobre seu corpo. Uau! Exclamo ao ver aquele corpo sarado sendo exclusivamente meu. Imito seu gesto e jogo ao longe a blusa solta que me envolvia, O tempo passando sem pressa, o calor aumentando à medida que ele passa, e nossos corpos ficando nus. Eu mal acreditava que agora, com pouco mais de um mês que conhecera aquele homem, ele era só meu. Depois de pingos de suor caídos, corpos acariciados, línguas transformadas em membros, e dedos em línguas nada mais passava em minha mente apenas sentia seu falo me penetrar num vaivém incansável me fazendo delirar, revirar os olhos e ser levada ao último grau de prazer. Da mesma forma aconteceu com ele, jorros e jorros de prazer escorreram nas partes mais remotas dos nossos corpos, até adormecermos por falta de virilidade.
A noite foi longa, e o sexo pra lá de prazeroso. Enfim, estamos cada qual em sua casa. Tomada de desmemoria quase esqueço de dizer que também tenho família, mas como boa garota que de tudo viveu um pouco, sei dar justificativas e argumentar tão bem, que certa feita, convenci uma cobra que nela, havia pernas! Todavia, em tudo o que eu falava, para a família havia crédito, certeza, razão e confiança. Mas, quando a noite, estou sentada na cama e recordo a noite anterior. Ui! Ai que angústia! Como eu pude ser tola ao ponto de não me preocupar com o que fiz? Como pude fazer sexo com uma pessoa que conheço a pouco mais de um mês, e pior, sem prevenção nenhuma?! Deus me livre de agora, uma gravidez. Foi quando argumentos comuns me viera a mente: Sou jovem, não posso interromper minha vida agora por causa de um filho, Ai que dor! Não quero nem pensar na hipótese. Não sou daqui, e tenho que voltar à minha terra onde todos me esperam. Meu Deus! Que desesperador, pensar que saí de lá uma menina, e volto mãe. E pior, não posso ficar aqui, porque não tenho ninguém por mim, estou apenas de passagem. E o pai, será responsável ao ponto de assumir? Ou pior ainda, será que terei que voltar sem meu filho? Já não mais contenho as lágrimas e por um acaso a última esperança me vem a mente: Calma garota, o tempo ainda não passou. Tempo. Sempre ele pra bater de frente comigo mostrando que ele detém o poder do está ou não, de ser ou não ser, de voltar ou ficar, de levar ou deixar. Como eu queria que o tempo não passasse e que tudo aquilo tivesse sido apenas um sonho. Mas as carnes ardendo, a vermelhidão das genitálias, deixavam claro que tudo aconteceu e que vou sofrer as consequências. O mês correu como águas de riacho intocado. E assim como o rio finda, o mês também findou. O período que eu mais temia chegou. No entanto o que eu mais queria não veio: o sangue, prova que meu útero vai continuar vazio até o tempo (sempre o tempo) em que eu queira ocupá-lo com um ser. Aguardei mais alguns dias e a angustia
aumentava a cada. Noites caiam, dias raiavam e todos acompanhados não só pela nuvem negra que encobria a cidade, mas pelas lágrimas que estavam acumuladas, desde o dia em que caminhando num parque vi o homem que agora temo ter semeado em mim sua semente. O contato com o moço responsável por povoar ou não meu corpo, permaneceu o mesmo, mas nunca na mesma intensidade. Até que 15 dias depois da data esperada para confirmar a não presença de um embrião, entro em contato com ele e ponho na mesa as cartas. Nele o impacto foi ainda maior, pois não esperava a essa altura ser pai. Eu ao menos já estava sem chão, há mais tempo que ele... os dias transcorreram tensos, eu na casa da minha tia, matinha sempre contato com a mãe irmã e os demais da família, mas não me imaginava chegando lá com um filho nos braços, afinal, do período estabelecido de 12 meses por aqui nesse outro mundo, eu ainda contava com 10, ou seja, ainda dá tempo de eu ter esse bebê com naturalidade totalmente diferente da minha.
Positivo. Essa palavra nunca me deixou tão desesperada como agora. Aonde foi meu sangue? E por que meu coração bate tão forte? Porque reconheço que fui uma imbecil. estúpida. Que não percebi que tenho apenas 15 anos de idade, tou num lugar que não pertenço, moro a milhares de quilômetros daqui, e deixei ser invadida por uma pessoa que conheci há pouco tempo, e agora descubro que vou ser mãe por causa da minha ignorância. Meu Deus! Como pode minha vida virar assim, de uma hora pra outra?! Como?! Logo após o “oi amor”, dele, repondo: “parabéns papai”. Agora compartilho não só o meu, mas o mundo dele também desabando na nossa frente, sem ter mais nada a fazer. A essa altura um suposto amor já tinha nascido em nossos corações, porque, afinal de contas, nossas vidas não girou em torno do sexo. Houve também, sentimentos, e por hora a história tem um leve tom de romantismo, porque declaramos um para o outro que levaremos essa gestação a sério independentemente do que acontecer.
O tempo (mais uma vez, o tempo) continua a se passar e aos poucos – e muito difícil –, vamos nos conformando com a ideia da materna e paternidade. O segundo mês gestacional passou, o terceiro... e então no quarto, resolvi contar a minha tia o que estava se passando. Ela sempre cuidadosa ficou tão abalada quanto eu quando descobri, mas prometeu manter segredo até pensarmos numa solução para quando, daqui a 6 meses eu retornar para o seio da família. Foi também nessa época resolvemos fazer a primeira ultrassonografia pra descobrir o sexo daquele ao qual meu ventre gerava. Exame feito, orgulho nas alturas. E lá estava um bebê macho! Mas eu ainda não sabia como iria terminar essa história. Que destino cruel!
Quinto mês de gestação, e os ditos desejos de grávidas eram o mais exóticos possíveis: pizza com chá, lasanha com café... e assim se passa (mais uma vez), o tempo. No sexto me de gravidez, minha barriga já era mais que visível, parecia que uma melancia inteira repousava em meu ventre. O sétimo chegou, o oitavo... E meu Deus! Que aflição passo eu, por não poder compartilhar com a avó do feto que carrego a maravilha de ser mãe. Há tempos não saio mais, o sono não é tão confortável... e eu não sou mais a mesma pessoa, se nada do que eu vivi até hj, eu não tivesse a oportunidade de viver, seria pra
sempre a mesma garota que vai pra cama com qualquer um que após telefonemas e baladas julga conhecer.
25 de maio. Data a qual sinto contrações fortes e num piscar de olhos, estou numa maternidade acompanhada pelo pai da criança e por minha tia. Entro apressada, sendo carregada numa maca com dores absurdas e contrações fortíssimas. Depois de um beijo, no rosto me despeço prestes a entrar na sala para entrar em trabalho de parto: “vai ficar tudo bem”. Se reunir todas as dores que tive até hoje na minha vida, não se aproxima nem um pouco da que eu senti ao expelir do meu corpo o fruto de uma noite louca de sexo, depois de uma noite fria com lua minguante. Suuo muito e estou fraca, mas escuto o choro dele. Que alegria! Que emoção! Que retrospectiva se passa em minha mente. Desde o dia que aqui cheguei, da primeira semana que por aqui estava, ao dia em que vi enquanto caminhava um rapaz moreno, até o presente momento se passou pelos meus olhos, como um trihler de um filme. Percebi a mulher que tinha me tornado com apenas 16 anos de idade, e vi o quanto o destino pode mudar completamente nossas vidas. Claro que pra tudo há um motivo, mas não sei se um dia entendo o por quê de ter deixado minha mãe, pra vir passar 12 meses numa terra desconhecida, imensa... de ter chegado menina e ter que voltar mulher.
Pronto! Parecia que um fardo imenso tinha sido tirado das minhas costas, mas não, foi apenas um nascimento. Passo alguns dias na maternidade sempre acompanhado pelo pai dele e pela minha tia, que nunca me abandonou. A atmosfera parece alegre, mas apenas eu sei a angustia que sinto em não poder compartilhar com minha mãe a felicidade que sinto. Nossa! Como é triste não poder dizer a minha irmã que ela agora é tia. E minha avó... fico só a imaginar a festa que faria, quando soubesse que é bisavó. Ai angustia que me consome. Ai destino que me Pré-destina.
O tempo (claro, ele nunca vai desaparecer), passou tão depressa nessa história de gravidez que nem me dei conta que minha passagem está comprada para o próximo mês. E agora? O que farei eu? O que o destino me reserva pra agora? Não sei, mas isso não me impede de aproveitar os momentos que tenho com meu filho. Aprendo a deixar a água do banho na temperatura ideal, a dar o banho... a vestir, a segurar essa coisa tão divina que gerei... já com o corpo renovado, passeio todos os dias pelo parque o qual conheci o pai da criança. o meu último mês por aqui, vai se findando e me preparo pra partir. Já recuperada da cirurgia, com malas prontas, bebê nos braços, e meu homem ao meu lado, me despeço da minha tia, em prantos, e a consolo: “Não se preocupe, tia, a senhora vai continuar vendo seu sobrinho”. Meu coração está apertado, o restante de lágrimas que resta na cisterna, se amontoa num cantinho.... e de mãos dadas com ele e o pequeno, no colo, entro no táxi rumo ao aeroporto. Descemos. Ele trás minha bagagem, e eu trago o bebê. Enquanto espero a chamada reflito: Tempo. Destino. Chuva. Frio. Lua minguante. Sexo. Nunca vou esquecer o que vivi na transição dos 15 para meus 16 anos. Era menina, me tornei mulher, era ingênua, me tornei madura, viva... hoje conheço o destino. O destino é um caminho que se segue sem conhecer, é um caminho sem volta, e sem opção. Nunca se pode voltar, mas também não se sabe o destino. Isso cabe a ele. O tempo... Ah! Esse é confidente do destino. Um anda lado a lado com o
outro, fazendo de nós o que bem quer, e nós, claro, temos que saber lidar com as situações propostas por eles. Tempo. Destino. Irmãos, amigos, infinitos. E pra interromper minha corrente de pensamentos, escuto a chamada à minha partida, e do mesmo jeito, sigo: Com o bebê no colo e as bagagens com ele, quando me viro e a troca é feita: pego a bagagem e entrego o bebê. Com o choro entalado, beijo os dois na intensidade que merece e exclamo: “Adeus!”