Preciso sair de mim.

O dia surgiu com os sons, aromas habituais e banais, mas uma agonia me invadiu, como uma massa enevoada que ocupou todos os recintos entreabertos naquela manhã. Talvez fosse a chuva que caia, não era de forma torrencial, eram pingos minúsculos e gélidos desmoronando silenciosamente de algum lugar. Quando abri a porta, veio uma angústia acompanhada daquela sensação dolorida, então pensei:- o verão acabou, tenho um longo ano pela frente. O outono está começando, as folhas logo vão amarelar e cair pelo chão formando lindos tapetes multicoloridos nas ruas e parques. Mesmo com a beleza que assisto, eu não gosto de outono, este tom neutro e politicamente correto desta estação me esmaga. Gosto da intensidade, das polêmicas e do calor do sol.

O dia seguiu seu rumo natural de um dia de trabalho, dez períodos de aulas me esperavam. Mas a cada minuto meu olhar deslizava para as janelas ou além delas, escorregava pra ti na busca de uma resposta para a confusão que se instalou nos meus pensamentos desde que te conheci. Havia uma balburdia generalizada provocada pela insensatez de colocar quarenta adolescentes numa mesma sala. Mas nem as gargalhadas e as brincadeiras descontraídas deles conseguia retirar a agonia instalada dentro de mim ao amanhecer. O que eu faço com estes sentimentos que estão surgindo, não são somente o fim do verão, o começo do outono que me atormentam, há outros fatos provocando isto. Pergunto- me, constantemente, se tenho o direito de tomar uma decisão que irá mexer com toda uma estrutura familiar. Porém, vem-me outra pergunta, será posso continuar infeliz deste jeito, sem sonhos, sem perspectivas, morrendo todo dia mais pouco.

Os dias surgem sempre iguais para mim, mesmo que não sejam semelhantes parecem presos numa nevoa em que, às vezes, entram pequenos estilhaços de sol. Quero mudar isso, mas, sinto uma dor muda por ti, por mim e, principalmente, pelos meus filhos, tão belos e inteiros de vida e sonhos. Sei, quero viver o que me resta, aspiro o brilho das noites entremeadas das risada matreiras, ainda desejo o amor e sentir o gosto inevitável da paixão de alguém por mim. Necessito de um olhar enlevado foliando pelo meu corpo e sentir a sensação de desejo se instalando aos poucos. Não quero continuar na existência, assim meio assim, como se um tom neutro e amargo me barregasse todas as manhãs e findassem numa solidão secular mesmo acompanhada.

18/2/2014

18/03/2014