POESIA E CONHECIMENTO.

A poesia tem multiplicidade de escolas. Elas foram muitas e satisfatoriamente exercidas e discutidas, no Brasil e no mundo. A poesia que obedece aos passos da regra. A autoridade dos autores e a permissão linguística tem o conceitualismo poético sob balizas. Isso não funciona para o povo que não gosta de regras.

Comecei a alargar com recantista esclarecido o universo da palavra, o que ela traz, seu procedimento, como nasce e qual seu alcance, melhor, o que representa. E as veredas devem ser aumentadas, postas as epigrafias em seus devidos lugares.

Hoje vive-se em mundo diverso onde chamar de poesia o sentimento é válido. E sempre foi. O que era o haicai, de onde surgiu e qual sua razão? Foi mais sentimento ou regra? Quais regras lhes são imanentes e por quem colocadas? É um bom ponto referencial para dissociar poesia de conhecimento e firmá-la no sentimento. Não há poesia sem sentimento, ainda que elaborado como em química laboratorial, vasculhados os elementos da composição, buscados, medidos, pinçados como fios descosturados da realidade sentimental que mora no interior do poeta, e por isso falaciosa. E isso muito se vê, a internet propicia esse périplo de um vanguardismo que ficará em seus limites, pois vanguarda tem regras, mas reverbera seu tom para avaliação histórica, como dado exclusivamente.

Ela, a poesia, autêntica ou não, acadêmica ou não, começa os primeiros passos nas cavernas sentimentais, verdadeiras ou inverdadeiras, forçadas ou naturais, mas geridas no útero do mundo anímico, na alma.

Nada se precisa conhecer de nada, nem da própria língua como flagrante, para expor o que vai dentro de alguém. Ouvi, sem querer, sentado no banco da lancha Rio-Niterói, hoje, a exposição dos sentimentos. Alguém dizia ao amigo, sentados ao meu lado, o que ia dentro de sua alma em direção a determinado fato. Era pessoa de poucas letras, os termos usados assim definia. Não falava respeitando regras de linguagem, reportava o que sentia.

Conhecimento e sentimento são díspares. Todos têm sentimento, seja qual for, bom ou mau. As nódoas e mágoas são visíveis na hoje chamada antena mundial, também as alegrias, é a internet e sua terapia pela palavra. Todos que podem, querem fazer essa terapia, colocar para fora seus anjos e demônios, e fazem pelo meio que entendem como poesia, não formal. É pura necessidade, comungar ou excomungar suas visões. É verdade que frustrações e sonhos abortados estão em maior número no canto sofrido.

Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, Cora Coralina, é exemplo do que falo, de restrita escolaridade, frequentando exclusivamente os quatro primeiros bancos escolares, primários, se tornou o maior nome literário jamais alcançado por qualquer poeta do Centro-oste do Brasil.Escrevia com simplicidade e seu desconhecimento acerca das regras da gramática não esconderam sua mensagem que sem regras formais prestigiavam a mensagem.

Mas estava imbuída em entender o mundo verdadeiramente, não personalisticamente, e muito mais, e o principal, compreender o real papel que deveria representar, exercendo assim a busca de respostas no seu cotidiano. Deu sua aliança de ouro de forma cidadã para ajudar o que entendia como patriotismo. E o disse em verso.

O dizer poético não deve emoldurar só nosso quadro interno, mas contribuir inequivocamente para o crescimento de nosso entorno, o “dharma” budista. Se assim não se forma a poesia, mesmo sem regras, a nada chegará, só a um soluçar incontido e vazio.

Descobriu por seu alto descortino, Cora Coralina, com sua privilegiada inteligência, como a simplicidade pode ser o melhor caminho para atingir a mais alta riqueza de espírito.O sentimento contabilizado, que raia da indiferença com o todo até a pretensão, e que não olha o mundo, é estabelecer mercado e moeda de troca, e o retorno nunca chegará aos cofres do pretensioso. Viverá de lamentos, tão só.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 18/03/2014
Reeditado em 18/03/2014
Código do texto: T4734018
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