O BICO DO PARAFUSO

CEP - NÃO É O QUE VOCÊ ESTÁ PENSANDO

CEP pode significar muitas coisas, desde Código de Endereçamento Postal, até Controle Estatístico do Processo e justamente este é que me interessa e deveria interessar todas as empresas, quer estatais ou privadas.

Lembrei dele quando coloquei no lixo 60 parafusos de uma caixa de 1.000 que eu havia comprado, então resolvi escrever esta crônica intitulada:

O BICO DO PARAFUSO

Na cidade não havia fábrica de parafusos, então uma empresa se estabelece e começa a produzir parafusos de diversas bitolas, funcionários dedicados e máquinas novas, o mercado prospero tem boa aceitação ao produto ofertado, então o empresário compra mais máquinas e contrata mais pessoas.

As primeiras máquinas começam a falhar e o produto já não é tão bom, as vendas diminuem, os funcionários começam a reclamar por aumento, então a solução é reduzir a carga horária, passados alguns dias novamente reclamações que são acomodadas com a solução mágica, algumas máquinas são desativadas e as jornadas de trabalho que eram de 8 horas e foram reduzidas para seis, agora são de 12 horas por 36 horas.

Não resta outra alternativa os funcionários precisam de dinheiro para comerem, para mandarem os filhos à escola, para pagarem os aluguéis. Sem abandonarem os empregos na velha empresa decidem por uma Cooperativa meio clandestina, também na produção de parafusos e passam a dividir os horários na industria com a Cooperativa, a disputa de mercado não incomoda o velho patrão, pois conta com os funcionários por 12 horas, todos com os espíritos apaziguados.

A Cooperativa tem alguns problemas, que o CEP aponta, a falta de atenção e cuidado dos trabalhadores que é sentida pelos muitos parafusos defeituosos, a decisão é exigir que descansem mais. Na Cooperativa os rendimentos são proporcionais a produção, enquanto na empresa tanto faz, portanto o descanso será durante as jornadas na empresa.

A partir dai alguns trabalhadores passam a cochilar pelos cantos da empresa que de emprego principal passa a ser um bico.

Na velha empresa o patrão demite os cochiladores que obviamente são afastados da Cooperativa que lá só eram mantidos por algumas benesses recebidas da empresa, tais como vale refeição, vale transporte e cursos de atualização.

Os demitidos ficam desesperados e resolvem montar uma fábrica de parafusos de fundo de quintal, parafusos de péssima qualidade e passam a coagir o pequeno comércio a oferecer seus produtos com o apelo que são mais baratos.

A velha empresa pelo CEP sabia a origem dos problemas e não levou a sério, a Cooperativa que não adotou o controle, nem sabe os motivos de não deslanchar e no submundo da produção de fundo de quintal continuamos comprando 1.000 parafusos e descartando mais de 1%. Mesmo com nota fiscal de nada resolve, da próxima vez abrirei a caixa no balcão e exigirei a substituição dos defeituosos. Tomara que não haja uma milícia por ali.

ItamarCastro